Faz hoje 712 anos que se proferiu a Sentença Arbitral de Torrellas,
na fronteira castelhano-aragonesa, estabelecendo a paz definitiva entre
Aragão e Castela, o resultado de um longo processo, no qual Dom Dinis
foi o medianeiro principal, apoiado pelo papa e pelo rei francês Filipe
IV. É por isso estranho que o acontecimento seja praticamente
desconhecido entre nós, não sendo referido, quando se enumeram as
principais ocorrências durante o reinado do rei Lavrador.
As
disputas entre Aragão e Castela tinham a ver com a sucessão do trono
castelhano, assunto por resolver desde a morte do avô de Dom Dinis, Dom
Afonso X o Sábio, vinte anos antes. Em Junho de 1304, saiu de
Portugal uma solene e enorme comitiva, que incluía quase toda a corte
portuguesa. A presença da rainha Dona Isabel era imprescindível, já que o
monarca aragonês Jaime II era seu irmão.
Isabel
e Jaime cumprimentaram-se emocionados. Haviam-se separado há mais de
vinte anos, nas idades de onze e catorze respetivamente. Dinis achou-os
parecidos, também o cunhado possuía olhos e cabelos negros, estes
cortados à altura do pescoço, com a sua franja curta. Jaime, no entanto,
não ostentava a palidez da irmã, era robusto, nas suas vestes
escarlates, bordadas a fio de ouro.
O
herdeiro do trono português foi apresentado ao tio, que lhe elogiou a
postura, arrancando-lhe um sorriso e espantando Dinis, que raramente
assistia a tal reação por parte do rebento. O monarca aragonês fez ainda
questão de mencionar a parecença do moço com o avô Pedro III,
embevecendo Isabel. Dinis, por seu lado, ouvia-o contrafeito, apreciaria
mais que o príncipe fosse parecido com ele… Como Afonso Sanches!
Dom
Dinis tinha todo o interesse em que a paz fosse estabelecida na
Hispânia, pois, embora Portugal não estivesse diretamente implicado,
esta crise passava pela legitimação dos filhos do falecido rei de
Castela, Dom Sancho IV. O seu sucessor, Fernando IV, ainda menor, era o
noivo da infanta Dona Constança, filha de Dom Dinis e de Dona Isabel.
A
comitiva portuguesa iniciou a viagem de regresso a 16 de Agosto, passou
cinco dias em Valhadolid e só entrou em Portugal a 7 de Setembro.
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