Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

7 de agosto de 2016

O Rei Lavrador

A justificação mais comum para o cognome de Dom Dinis é o facto de ele ter mandado plantar o pinhal de Leiria. É uma justificação um pouco redutora, por duas razões:
- em primeiro lugar, Dom Dinis fomentou a agricultura em todas as suas vertentes;
- em segundo lugar, talvez tenha mandado plantar mais pinhais. O pinheiro bravo cresce depressa e Dom Dinis terá apostado nesta espécie, a fim de dar resposta ao consumo exorbitante de madeira que se verificava na Idade Média.

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Estátuas de Dom Dinis e Dona Isabel em Leiria






A este pretexto, um excerto do meu romance:

Urgia criar novos espaços agrícolas. Excetuando os vales férteis do norte do reino, os solos de argila arenosa não eram muito produtivos e a maior parte deles encontrava-se esgotada, ao mesmo tempo que a população crescia. Havia que aproveitar terrenos até ali insalubres, não só para produção de pão, vinho e azeite, mas também para o cultivo de leguminosas e fruta e o ganho de linho, burel e estopa.
Dinis aprendera com o pai a fomentar a agricultura e celebrava contratos minuciosos com os agricultores dos reguengos, chegando ao ponto de, no caso da vinha, neles mencionar a conveniente adubação, ou a renovação das cepas mortas por meio da mergulhia ou do plantio de novas vides, passando pela escava, cava, sacha, poda e empa.
Frei Martinho de Alcobaça explicava ao seu soberano como se fariam as abertas e quais as culturas que melhor se dariam no Paul de Ulmar. Assim que a drenagem estivesse concluída, Dinis distribuiria as terras, formando grupos de casais ou aldeamentos, em que os moradores seriam foreiros, ou seja, pagariam o foro à Coroa, que normalmente consistia num quarto daquilo que a terra produzisse.
Próximo da praia, apontando para as vastas dunas, o cisterciense declarou:
- As ventanias vindas do mar arrastam a areia para o interior, acabando por cobrir as terras aráveis. - Apontou para uma zona de floresta de pinheiro manso e acrescentou: - As árvores protegem os campos, mas são cada vez menos.
Dinis estava a par do problema da desertificação das florestas, a fim de satisfazer o consumo exorbitante de madeira, necessária à construção de travejamentos, tetos e soalhos, para não falar dos móveis e utensílios domésticos. Além disso, consistia praticamente no único material com que eram construídos estábulos, adegas, espigueiros e moinhos e servia ainda para aprestos agrícolas, desde forquilhas, ao carro e ao arado. A madeira era ainda o principal combustível. Sem lenha, não havia pão, alimentos cozinhados, nem um mínimo de conforto no Inverno. Dela se faziam igualmente estacaria para amparar culturas ou levantar vedações e fertilizantes do solo, quer através de folhagens apodrecidas, quer de cinzas, que serviam ainda para produzir sabão.
Como conciliar tão grande consumo com o travar da desertificação das florestas?
Dinis sabia que o pinheiro pertencia ao género de árvores que mais lestas cresciam e Frei Martinho acrescentou:
- O pinheiro bravo ainda se desenvolve mais rápido do que o manso, além de dar muito pez e resina. E com as agulhas, que se conservam muito tempo sem apodrecer, também se faz bom lume.
- Tomarei providências para que seja aumentada esta área florestal, substituindo o pinheiro manso pelo bravo, a fim de não só abastecer as populações de madeira, mas também evitar que a areia cubra as terras aráveis… Um procedimento que poderá aliás ser usado noutras zonas costeiras.

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O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

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