A justificação mais comum para o cognome de Dom Dinis é o facto de
ele ter mandado plantar o pinhal de Leiria. É uma justificação um pouco
redutora, por duas razões:
- em primeiro lugar, Dom Dinis fomentou a agricultura em todas as suas vertentes;
-
em segundo lugar, talvez tenha mandado plantar mais pinhais. O pinheiro
bravo cresce depressa e Dom Dinis terá apostado nesta espécie, a fim de
dar resposta ao consumo exorbitante de madeira que se verificava na
Idade Média.
Estátuas de Dom Dinis e Dona Isabel em Leiria
A este pretexto, um excerto do meu romance:
Urgia
criar novos espaços agrícolas. Excetuando os vales férteis do norte do
reino, os solos de argila arenosa não eram muito produtivos e a maior
parte deles encontrava-se esgotada, ao mesmo tempo que a população
crescia. Havia que aproveitar terrenos até ali insalubres, não só para
produção de pão, vinho e azeite, mas também para o cultivo de
leguminosas e fruta e o ganho de linho, burel e estopa.
Dinis
aprendera com o pai a fomentar a agricultura e celebrava contratos
minuciosos com os agricultores dos reguengos, chegando ao ponto de, no
caso da vinha, neles mencionar a conveniente adubação, ou a renovação
das cepas mortas por meio da mergulhia ou do plantio de novas vides,
passando pela escava, cava, sacha, poda e empa.
Frei
Martinho de Alcobaça explicava ao seu soberano como se fariam as
abertas e quais as culturas que melhor se dariam no Paul de Ulmar. Assim
que a drenagem estivesse concluída, Dinis distribuiria as terras,
formando grupos de casais ou aldeamentos, em que os moradores seriam
foreiros, ou seja, pagariam o foro à Coroa, que normalmente consistia
num quarto daquilo que a terra produzisse.
Próximo da praia, apontando para as vastas dunas, o cisterciense declarou:
-
As ventanias vindas do mar arrastam a areia para o interior, acabando
por cobrir as terras aráveis. - Apontou para uma zona de floresta de
pinheiro manso e acrescentou: - As árvores protegem os campos, mas são
cada vez menos.
Dinis
estava a par do problema da desertificação das florestas, a fim de
satisfazer o consumo exorbitante de madeira, necessária à construção de
travejamentos, tetos e soalhos, para não falar dos móveis e utensílios
domésticos. Além disso, consistia praticamente no único material com que
eram construídos estábulos, adegas, espigueiros e moinhos e servia
ainda para aprestos agrícolas, desde forquilhas, ao carro e ao arado. A
madeira era ainda o principal combustível. Sem lenha, não havia pão,
alimentos cozinhados, nem um mínimo de conforto no Inverno. Dela se
faziam igualmente estacaria para amparar culturas ou levantar vedações e
fertilizantes do solo, quer através de folhagens apodrecidas, quer de
cinzas, que serviam ainda para produzir sabão.
Como conciliar tão grande consumo com o travar da desertificação das florestas?
Dinis sabia que o pinheiro pertencia ao género de árvores que mais lestas cresciam e Frei Martinho acrescentou:
-
O pinheiro bravo ainda se desenvolve mais rápido do que o manso, além
de dar muito pez e resina. E com as agulhas, que se conservam muito
tempo sem apodrecer, também se faz bom lume.
-
Tomarei providências para que seja aumentada esta área florestal,
substituindo o pinheiro manso pelo bravo, a fim de não só abastecer as
populações de madeira, mas também evitar que a areia cubra as terras
aráveis… Um procedimento que poderá aliás ser usado noutras zonas
costeiras.
O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.
Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.
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