Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

4 de agosto de 2016

Em defesa dos "aveques"


E como estamos em Agosto, venho dar uma palavrinha em favor dos tais "aveques", que costumam invadir Portugal nesta altura e que são tão desdenhados pelos compatriotas residentes. Conhecedora das duas faces da medalha, estou em condições de dizer que a mistura de línguas por muitos usada não serve apenas para se armarem ao pingarelho. Alguns fá-lo-ão com esse propósito, mas acreditem-me: nem todos!

Quando se vive num país estrangeiro e se começa a falar a língua local, é comum começarmos a misturar as duas. Os pais das crianças portuguesas, às quais dei aulas em Hamburgo, falavam-me quase sempre numa mistura de português e alemão. E era óbvio que não se estavam a armar, a situação não o exigia.

Na verdade, é preciso bastante disciplina e autocontrolo para não fazer a mistura. Sem querer diminuir ninguém, apenas ser objetiva, há pessoas mais letradas do que outras. As menos letradas são as que têm mais dificuldades em notar quando metem palavras francesas (ou afrancesadas), ou palavras alemãs (ou "alemãsadas") no meio de uma frase em português.

Eu tive o privilégio de me poder licenciar. Sendo a minha licenciatura no campo das Letras e, dentro destas, das Línguas e Literaturas, tenho mais facilidade em fazer a distinção. Mesmo assim, garanto-vos que, em certas situações, não é fácil. Por vezes, em Portugal, tenho mesmo de me travar para não meter uma argolada alemã pelo meio e dou comigo a falar mais devagar na minha língua-mãe, ponderando bem as palavras que uso.

O problema é que todas as línguas têm palavras e/ou expressões ideais para certos casos, ou situações, difíceis de traduzir, e a tentação de as usar, caso caibam no contexto, é muito grande. Por isso, não liguem tanto às acrobacias linguísticas dos "aveques", por mais que elas vos irritem!

P.S. E se, em Portugal, derem comigo a falar alemão com a minha Lucy, não se escandalizem! Os cães fixam de facto o som das palavras, são até capazes de entender algumas frases. E considerem que há uma grande diferença acústica entre "Deita" e "Platz", ou "Onde está a tua bola?" e "Wo ist dein Ball?"




Bom Agosto!




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