Fonte da imagem |
Mais uma passagem do meu romance sobre Dom Dinis, referente à sua paixão por uma donzela protegida de Dona Isabel e em que o Rei Lavrador revela a sua veia poética:
Dinis nunca se vira em tal situação, sempre seguira os seus impulsos, não hesitando em seduzir uma dama que o encantasse. A verdade é que se interessava, pela primeira vez, por uma protegida da rainha. Sempre achara tais moças novas e tímidas demais, um juízo que se acentuara com o passar do tempo. Aquela jovem, porém, ultrapassava todas as suas expectativas, no que respeitava a beleza e graça. Para mal dos seus pecados, também cativava Isabel, era visível a ternura que a rainha nutria por ela, expressada num grande empenho em lhe proporcionar um futuro digno. Branca Lourenço de Valadares não era apenas mais uma protegida de Isabel, era a sua protegida especial!
Assim que recolheu aos seus aposentos, e apesar de extenuado, Dinis sentou-se à sua escrivaninha, expressando o desespero em que viveria, enquanto não declarasse o seu amor:
(Tivesse eu tempo e Deus me desse o poder de vos contar o mal que me faz sofrer essa vossa beleza, da qual Deus não fez par; pudesse eu falar-vos e perderia muito do sofrimento que hoje me mata; Deus fez-me amar-vos tanto, que não consigo imaginar como possa continuar a viver, se não acabardes com este meu sofrimento sem igual):
Senhor, hoj’ houvesse eu vagar
e Deus me desse end’ o poder,
que vos eu podesse contar
o gram mal que mi faz sofrer
esse vosso bom parecer,
senhor, a que El nom fez par.
Ca se vos pudess’ i falar,
cuidaria muit’ a perder
da gram coita e do pesar
com que m’ hoj’ eu vejo morrer,
ca me nom pod’ escaecer
esta coita que nom há par.
Ca me vós fez Deus tant’ amar,
er fez-vos tam muito valer,
que nom poss’ hoj’ em mi osmar,
senhor, como possa viver,
pois que me nom queredes tolher
esta coita que nom há par.
O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.
Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.
Nota: Todas as Cantigas de Amor, de Amigo e de Escárnio transcritas no meu romance são originais de Dom Dinis, embora seja fictício o contexto em que são inseridas.
Sem comentários:
Enviar um comentário