Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

1 de setembro de 2016

Dom Dinis e Dona Isabel (2)


Imagem Codex Manesse

Sou de opinião que a relação entre Dom Dinis e Dona Isabel não teria sido fácil, situação aliás latente na narração do milagre das rosas. Embora essa lenda não seja exclusiva do par real português (o milagre das rosas atribuído a Santa Elisabete da Turíngia é semelhante), é evidente a não-aceitação por parte de Dom Dinis de tanto fervor caritativo da sua rainha. No meu romance, eu alargo essa rejeição ao fervor espiritual de Dona Isabel.

É também curioso constatar que, em quarenta e quatro anos de casamento, o par real teve apenas dois filhos, nascidos entre 1290 e 1291. Dom Dinis só morreria em 1325, trinta e quatro anos depois de nascer o seu último filho com Dona Isabel.


Em meados do mês, quando os calores abafados deram lugar a trovoadas monumentais, chegaram finalmente notícias. De Aragão! Com apenas vinte e seis anos, Afonso III morrera de repente, nas vésperas do seu casamento com a filha de Eduardo I de Inglaterra! À falta de um herdeiro, o trono fora ocupado por seu irmão Jaime.
Isabel isolou-se totalmente, ficando inalcançável. Acordando no meio das noites de trovejar violento, sozinho e triste, o rei deu consigo a desejar ter Aldonça a seu lado. E continuava a perguntar-se que tipo de sentimentos o ligava à consorte. Durante aqueles quase três anos de felicidade em comum, pensara, muitas vezes, que Isabel era a mulher da sua vida. Parecia não se encher dela, como normalmente acontecia com as barregãs. Por outro lado, toda aquela espiritualidade, assim como as qualidades de curandeira e vidente, assustavam-no. Não deixava de ser uma ironia na vida dele: a mulher que ele mais desejava, afigurava-se-lhe inalcançável. Parecia-lhe estar longe, apesar de viver a seu lado.
Algumas semanas mais tarde, Isabel procurou-o. Parecia flutuar, em vez de andar. A palidez e a magreza davam um tom transparente à pele, realçando o negrume dos olhos. Na sua amargura, Dinis não conseguiu evitar uma tirada áspera:
- Se assim continuais, cedo fareis companhia a vosso irmão!
Logo se arrependeu daquela rudeza, mas Isabel manteve o semblante sereno, imune, como sempre ficava depois de meditação e jejum intensivos. E retorquiu muito calma:
- Não vos preocupeis! Ainda me estão reservados vários anos de vida.
Dinis absteve-se de perguntar quem lhe assegurara tal.





Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg



O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook, por exemplo, na LeYa Online, na Wook, na Kobo e na Amazon (pagamento em euros); Amazon (pagamento em dólares).

No Brasil, está disponível na Livraria Saraiva e na Livraria Cultura.

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

2 comentários:

Olinda Melo disse...


Um belo excerto, cara Cristina.
Um romance vivo e envolvente.
Farei dele um comentário em forma,
um dia destes.

Bj

Olinda

Cristina Torrão disse...

Muito obrigada, Olinda :)

Beijinho