Diverti-me a ler este
livro, publicado, pela primeira vez, em 1934, por Dorothy Emily Stevenson (entre
nós desconhecida). Atualmente, não há versão portuguesa, nem sei se alguma vez
houve. Não sendo uma obra muito literária, este livro vale pela ironia, pela
capacidade de a autora retratar o ser humano e pelas questões que coloca quanto
à atividade do escritor (sendo a principal: é legítimo que usemos pessoas que
conhecemos como personagens?).
Numa pequena e pacata
localidade inglesa, nos arredores de Londres, instala-se o caos, quando se
descobre a publicação de um livro que retrata essa mesma localidade e os seus
habitantes. Enquanto uns acham piada e se divertem imenso, outros indignam-se
de se verem tão bem retratados, como se olhassem para um espelho e não
gostassem da imagem refletida.
A questão que passa a
preencher a vida da localidade é: quem é o autor? Este naturalmente assina com
pseudónimo. Instala-se a desconfiança e até se organizam reuniões para discutir
a melhor maneira de descobrir quem está por detrás do projeto e como se poderá castigá-lo!
Tenta-se processar o
editor, exigindo-se-lhe que retire o livro do mercado, empresa condenada ao
fracasso, pois é impossível provar que o autor tentou atingir propositadamente determinadas
pessoas - o facto de alguém se reconhecer num livro não quer dizer que seja ele
o referenciado. Também achei interessante que algumas pessoas não se reconhecessem
na personagem a elas correspondente, mas acabarem por modificar a sua vida, precisamente
de acordo com essa personagem. O livro não descreve apenas a vida da localidade,
dá soluções para vidas, digamos, encalhadas, boas soluções para pessoas com
quem o autor simpatiza.
Pelo meio, temos a
questão de alguém, que nunca escreveu, meter mãos à obra e conseguir que o
primeiro editor a quem manda o original o publique, enquanto um outro escritor,
conhecido na localidade, se farta de enviar, anos a fio, originais a editoras,
sem sucesso. No início, até se desconfia que seja ele o autor, possibilidade
que logo se descarta, pois a personagem a ele correspondente é tão intragável,
que até a mulher o abandona.
A certa altura,
alguém lembra que o livro pode muito bem ter sido escrito por uma mulher!
Suspeita-se da esposa do médico, senhora culta e com tempo para tal atividade,
pois, apesar de ter dois filhos, não exerce atividade profissional e tem
criada. Além disso, conhece a história da vida de muita gente, através do
marido, e… não é mencionada no romance!
Tomam-se medidas para
a obrigar a assinar um documento, em que declara desejar retirar o livro do
mercado. Da verdadeira autora, a solteirona Miss Buncle, tímida e sem jeito para
se vestir, pentear e conversar, ninguém desconfia…
Nota: li a versão alemã, Stich
ins Wespennest, republicada em 2013.