Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

31 de julho de 2017

Irmãos e ciúmes



Foto © Horst Neumann

Muitos pais surpreendem-se com os ciúmes que os filhos mais velhos criam pelos mais novos e reagem indignados. Afinal, o mais velho já devia compreender que o irmão precisa de mais cuidados e evitar dar trabalho extra. Este modo de pensar, lógico à primeira vista, contém, na verdade, um grande erro de avaliação, que pode ser muito prejudicial às crianças.

Imaginemos a seguinte situação: um menino, chamemos-lhe Paulo, tem cinco anos, quando nasce a irmã, chamemos-lhe Paula. É claro que a recém-nascida precisa de tratamento intensivo. O Paulo, com cinco anos, já devia entender isso…

Devia? Será que uma criança com cinco anos está mesmo em condições de avaliar a situação, à semelhança de um adulto? Não estaremos a ser profundamente injustos com o Paulo? E se ele, em vez de ter cinco anos, tem quatro? Os pais têm mais compreensão para com os ciúmes dele? Claro que não! Mais velho é mais velho, tem de entender que a recém-nascida precisa de toda a atenção dos progenitores! O mesmo aconteceria se o Paulo tivesse apenas três anos. Ou, por outro lado, já tivesse seis.

Para melhor entendermos o drama do Paulo, imaginemos que ele ficava filho único! Na idade de cinco anos, em vez de lhe ser exigido que entendesse os problemas dos adultos, os pais continuariam a dar-lhe toda a atenção e, em muitos casos, a tratá-lo como um bebé e a escandalizar-se com alguém que dissesse que ele já era crescidinho para certas coisas. Temos assim a mesma criança, com a mesma idade, mas uma avaliação completamente diferente dos seus sentimentos por parte dos mesmos pais.

E quando a Paula tiver cinco anos? Os pais vão exigir dela que compreenda os problemas dos adultos? Claro que não! Em contrapartida, exigiram-no do filho! A Paula será eternamente a mais nova e, mesmo quando tiver doze ou catorze anos, os pais vão exigir ao Paulo que tome conta dela e lhe resolva problemas. O Paulo terá de fazer, pela Paula de doze anos, coisas que ele com oito ou nove já resolvia sozinho. Os pais costumam ser cegos a evidências deste tipo.

Mas afinal, em que idade é que uma criança já tem obrigação de entender a situação? A resposta é: antes da puberdade, em nenhuma!

As crianças enervam e chamam a atenção porque sabem intuitivamente que não têm meios de sobreviverem sozinhas. Elas dependem dos pais para tudo. Observemos o reino animal: uma cria que se ache sozinha muito tempo, começa a piar, a miar, a ganir, etc. Porquê? Porque sabe que, se os pais (ou a mãe) não chegam depressa, ela não tem hipóteses de sobreviver. Nós humanos nascemos com o mesmo instinto. Os bebés berram precisamente para não serem esquecidos. Não é para enervarem ou por serem egoístas, mas sim o medo da morte, do desconhecido, do desamparo. Os psicólogos chegaram à conclusão de que ignorar os apelos de um bebé durante muito tempo pode causar-lhe um pavor de morte. Esse instinto de chamarmos a atenção dos adultos que tomam conta de nós mantém-se até à adolescência, ou seja, até à idade em que começamos a perceber que ganhamos capacidades (e desejo) de sobrevivermos sozinhos.

Quando nasce um segundo filho, os pais devem preparar o mais velho para a situação, até porque se pensa hoje que o amor fraterno não nasce automaticamente. São os progenitores que têm de criar condições para que se desenvolva amor entre os irmãos. Perante o bebé, em vez de sentir amor, o mais velho apenas sente pavor, mesmo pânico, de que os pais se esqueçam dele. É uma criança angustiada! Por isso, é tão prejudicial ignorar (para já não falar de ridicularizar ou agir com agressividade) os seus apelos.

No jornal católico alemão KirchenZeitung (nº 29, de 23-07-2017), encontrei algumas sugestões para minorar os ciúmes da criança mais velha:

- Integrá-la na nova constelação familiar já durante a gravidez da mãe, seja em sentir o bebé na barriga, seja em colaborar em certos planos, como na preparação do quarto do irmão.
- Não alimentar falsas esperanças: a criança que aí vem não é um irmãozinho desde logo apto a brincar com o mais velho.
- Entender os sentimentos do mais velho. Ele sente mais que continua a fazer parte da família, se puder ajudar em algumas atividades, como a preparação do biberão.
- Sempre que possível, aproveitar as alturas em que, por exemplo, o bebé dorme, para se ocupar com o mais velho (brincar e/ou conversar com ele, fazer-lhe carinhos, ler-lhe histórias, etc.).
- Também a avó, o avô, a tia, o tio, os padrinhos e amigos podem colaborar ao continuarem a dar muita atenção ao mais velho e, muito importante, fazê-lo em primeiro lugar, ou seja, antes de virarem as suas atenções para o bebé.


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