Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

28 de dezembro de 2017

Retrocesso Civilizacional em Democracia


Agora, que o Natal já passou e nos preparamos para iniciar um novo ano, uma época que poderá servir de reflexão, publico um resumo da minha palestra do passado dia 2 de Outubro, no Rotary Clube da Feira, a convite da sua Presidente Carla Pinto:




Considera-se que, quanto mais evoluímos, mais solidariedade e companheirismo desenvolvemos e melhor sabemos viver em comunidade. Infelizmente, nem sempre se verifica tal e um dos nossos grandes males, a meu ver, é a memória curta.
Verifica-se um crescimento de partidos radicais e xenófobos, ou seja, um retrocesso civilizacional que muitos de nós não julgavam possível. Estamos perante um fenómeno estranho na nossa democracia: há como que um desejo de regresso a regimes autoritários. E, o que é realmente perigoso, a palavra ditadura parece ter perdido muito do seu verdadeiro significado.
«É o medo que nos torna agressivos», escreve a minha personagem Helena, numa das suas cartas, no meu romance parcialmente epistolar Tu És A Única Pessoa. Muitos de nós parecem ter capitulado a um medo ancestral, nomeadamente, o medo do desconhecido. Não nego que vivemos tempos complicados, em que o terrorismo é uma ameaça a ser encarada com toda a seriedade. Impõe-se, porém, discernimento, que ajude a separar o trigo do joio e não nos leve a ver um terrorista em qualquer refugiado que procure a nossa solidariedade (muitas vezes, até nos esquecemos que muitos desses refugiados são cristãos).
O medo procura soluções radicais, como a instauração de uma autoridade suprema, que proteja a vida daquelas que são consideradas “pessoas de bem”. Confesso ter dificuldades com a expressão “pessoas de bem”, altamente subjetiva e que, afinal, nada diz. Muitos de nós parecem dispostos a prescindir de liberdade, em nome de uma segurança, que aliás é sempre ilusória, pois não existe a segurança absoluta. E, numa ditadura, a segurança de alguns paga-se com a insegurança de outros, cujo único “crime” é discordar do sistema vigente.
Assusta-me que o comodismo em que vivemos vá ao ponto de desejar uma ditadura, desejar que haja uma autoridade suprema que nos resolva os problemas, sem nos preocuparmos com que métodos. Considero gravíssima essa ilusão de vivermos em segurança, sem querermos saber dos métodos aplicados, a ilusão que possibilitou o regime nazi.
Nós portugueses também já tivemos uma experiência ditatorial. Penso que é imprescindível manter viva essa memória e ir à procura de testemunhos que não nos deixem esquecer as barbaridades que se cometeram em nome de uma pretensa segurança, em nome da proteção das famílias e das tais “pessoas de bem”.


1 comentário:

Sou a mãe do puro amor Lucia Bauer disse...

Regimes nunca acrescentam nada !
Não há como ignorar , que nas criticas , tende-se a confundir a sociedade onde vivemos
Mas jamais será confundido aquele que caminha na sabedoria
Principalmente aquele que reconhece que sabedoria é ajudar o próximo