Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

24 de março de 2011

Batalha de Ourique IV - O Combate

José Filipe Photo

Na manhã de 25 de Julho de 1139, Afonso Henriques tinha, pela frente, um exército muçulmano muito maior do que o seu. Por outro lado, sabia que o seu futuro como rei de Portugal dependia da vitória. Segundo Miguel Sanches de Baêna (Grandes Enigmas da História de Portugal - Vol. I, Ésquilo 2008) a sua estratégia baseou-se em mandar à frente os cavaleiros vilãos dos concelhos portugueses, a fim de irem desgastando os lançadores de dardos e flechas muçulmanos. Embora não tão bem armados como a cavalaria pesada dos barões nortenhos, os cavaleiros vilãos eram mais leves e destros.


Afonso adiou o mais possível o início das hostilidades, esperando que aquela guerra de nervos desgastasse também o inimigo. Quando finalmente mandou os cavaleiros vilãos avançar, estes precipitaram-se em direcção à infantaria almorávida, que começou a lançar os seus dardos, acompanhados de nuvens de flechas e virotes. Mas também os cavaleiros vilãos disparavam os seus arcos, a galope, ganhando assim as suas flechas mais velocidade. E, ao chegarem à linha de alcance dos projécteis mouros, fizeram meia-volta, com grande rapidez, e recuaram.
Antes de chegarem ao local onde se encontrava o príncipe com os seus cavaleiros, tornaram a mudar de direcção e a repetir o ataque anterior. Afonso notava como esta ofensiva na base do ataca/recua desgastava a infantaria almorávida, provocando grandes baixas e surpreendendo Ibn’Umar e os seus comandantes.

Claro que também a cavalaria pesada dos barões do norte entrou em acção, porém, numa altura em que as tropas muçulmanas já estariam desgastadas e sofrido grandes baixas. O comandante almorávida Ibn 'Umar tentou dar a volta à situação, mas Afonso Henriques possuía outros trunfos. Aqui, permiti-me uma liberdade, a fim de destacar os Templários, Ordem de Cavalaria sempre muito ligada ao nosso primeiro rei. Fizeram a sua aparição, quando os muçulmanos já não contavam com mais ninguém. Estes lembravam ainda a estranha cerimónia, de que se tinham apercebido, antes do início da batalha, ou seja, a aclamação de Afonso Henriques como rei de Portugal:

            Afonso fez então uso do ardil que reservara para o fim. Os Templários, até aí despercebidos pelos mouros, avançaram a toda a força, cercando o exército inimigo, antes que este tivesse tempo de recuar. As hostes sarracenas, vendo-se rodeadas pelos cavaleiros da cruz, que pareciam surgir do nada, começaram a desesperar. A verdade é que muitos dos almorávidas tinham avançado para a batalha já assustados. A estranha cerimónia que tinham notado no cimo do outeiro do acampamento cristão, aos primeiros raios de sol, tinha-os posto nervosos. Logo correra pelo seu acampamento o rumor de que Ibn Errik, que muitos consideravam ser o próprio diabo, invocava forças e espíritos obscuros.


Combate


            E aqueles cavaleiros da cruz, surgidos de repente, eram a prova do “golpe de magia” daquele demónio. Assim encurralados, em pânico, os almorávidas, embora em maior número, tornaram-se presa fácil para os cristãos. Faltava-lhes a força para aguentarem os embates das armas contra os seus escudos redondos e os portugueses, que pareciam realmente dotados de forças sobrenaturais, serviam-se dos seus machados e das suas maças, decepavam braços e mãos, esmagavam crânios e ombros. Cercados por todos os lados, os almorávidas e as suas montadas agonizavam, manchando de sangue a terra dos campos de Ourique. Afonso e os seus homens não conheciam perdão, só parariam à morte do último mouro.

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