Baseado no Dr. José Saraiva, o Prof. Freitas do Amaral considera a hipótese do "«Campo de Ourique», junto à nascente do rio Lis, na freguesia das Cortes, concelho de Leiria - que fica situada a cerca de oito quilómetros a sul da cidade de Leiria" (Biografia de D. Afonso Henriques, 5ª Edição, Bertrand Editora 2000, página 81).
No entanto, o Prof. Mattoso, na biografia já aqui citada, considera verosímil a localização no Baixo Alentejo, baseado nas razias e nos fossados que as populações de fronteira levavam a cabo, em terras de mouros. Muitas vezes, os monarcas hispânicos embarcavam nessa prática, organizando expedições de grande envergadura, sem o intuito de conquista, mas tão-só de intimidação e saque. Também os muçulmanos usavam esse tipo de estratégia, numa demonstração de força, de parte a parte.
Afonso Henriques regia, há mais de dez anos, sobre o Condado Portucalense, mas ainda mal se tinha dado a conhecer aos muçulmanos, já que passara aquele tempo tentando intimidar o primo, D. Afonso VII. Depois de perder os territórios galegos conquistados (ver Tratado de Tui), o nosso primeiro rei terá sentido necessidade de mudar de estratégia, virando-se para sul.
O ano de 1139 era favorável. Os almorávidas, a casta bebere que dominava o al-andalus (assim se chamava a Hispânia islâmica) tinham problemas com os seus rivais, os almóadas. Tashufin, o filho do emir almorávida, teve de ir em ajuda do pai, ao Norte de África, deixando Ibn 'Umar, governador de Córdova e Granada, a substituí-lo. D. Afonso VII aproveitou esse momento vulnerável para cercar a cidade de Aurélia e Afonso Henriques para organizar uma grande expedição de saque, a sul do Tejo.
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Com tantos homens armados, Afonso reconquistou Leiria. Atravessaram o Tejo a leste de Santarém, penetrando cada vez mais em zonas a eles estranhas, mesmo às milícias vilãs, que estavam habituadas a fossados e algaras em terras de mouros. Mantendo-se afastados, tanto de Évora como de Badajoz, atacaram e pilharam povoações, devastaram os campos e destruíram as colheitas. Ousaram mesmo atravessar o Guadiana, a sul de Badajoz, continuando os seus ataques sem se distanciarem muito do rio, pois era de evitar a zona de influência de Sevilha.
Julho ia a meio e o cerco do imperador Afonso VII a Aurélia já durava há dois meses. A fim de ir em socorro da cidade assediada, Ibn’Umar, governador de Córdova e Granada, representante de Tashufin, ocupava-se a reunir reforços e a comandar razias em territórios leoneses, numa tentativa de desviar o imperador daquela cidade. As hostes de Afonso viram-se assim livres para se apoderarem de muitos despojos e fazerem cativos, que venderiam ou manteriam como escravos.
No regresso, terão atravessado o Guadiana perto de Mértola, dirigindo-se para oeste, a fim de contornarem Beja. Aventuraram-se, talvez, longe demais e foram interceptados pelos mouros:
A preocupação de Afonso crescia, à medida que o mês de Julho se aproximava do fim, sem que tivessem sequer começado a deslocar-se em direcção ao norte. Aquela região inóspita, a que se chamava os campos de Ourique, deixava-o nervoso. Não havia florestas, onde se pudessem esconder em caso de necessidade, só uma imensa charneca, cujos arbustos o sol transformava em palha. E, quando os batedores, que eram mandados apalpar o terreno, esgotados e suados, se punham a observar a planície, o sol fazia-os ver movimentos e sombras onde estes não existiam.
No meio da sua preocupação, Afonso deu-se consigo a admirar ainda mais a arte dos mouros. Com os seus sistemas de irrigação, como noras e canais, alguns subterrâneos, os infiéis faziam surgir plantações viçosas no meio de zonas desérticas. Mas tais pomares e searas concentravam-se à volta das cidades, precisamente as zonas que o príncipe e os seus homens evitavam.
Afonso estava tão convencido de que a sua expedição já havia chegado aos ouvidos de Ibn’Umar, que, a 24 de Julho, quando o corso se virava finalmente para norte, ali nos campos de Ourique, não se surpreendeu ao ouvir os batedores informá-lo que um exército inimigo lhes cortava o caminho. Os homens relatavam, à beira do pânico, que, além dos estandartes do Andalus, com os versículos do Corão escritos a verde sobre fundo branco, tinham avistado outros com inscrições a negro sobre fundo vermelho, o que provava a existência de reforços de além-mar.
Excelente descrição Cristina, e empolgante também.
ResponderEliminar;)
mais uma vez, muito bom.
ResponderEliminar:)
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