Eu segui a versão de Miguel Sanches de Baêna, explanada nos Grandes Enigmas da História de Portugal - Vol. I, Ésquilo 2008.
Embora baseadas nessa versão, as citações que se seguem são do meu romance:
O cavaleiro cristão, com o seu armamento pesado e o forte cavalo normando, introduzido na Hispânia pelos francos, montava à brida, com loros compridos, as pernas esticadas para a frente e a lança firme, ou sobre mão, a fim de aguentar impactos e, ao mesmo tempo, apoiar-se na carga de grande violência.
Mas o exército de Ibn’Umar era quase três vezes maior do que o dele, não seria fácil destruir a sua formação, por mais demolidora que a carga fosse. Além disso, os mouros do Andalus tinham desenvolvido estratégias capazes de quebrar a violência de tais impactos. Os seus exímios lançadores de dardos e os não menos habilidosos archeiros posicionavam-se na primeira linha. Nuvens de flechas flagelavam a cavalaria cristã, mantendo-a à distância, e, assim que esta mostrava sinais de desgaste, a infantaria muçulmana criava intervalos na sua formação, a fim de deixar passar a sua cavalaria, que caía então sobre os cristãos desorganizados.
A leveza dos cavaleiros almorávidas revelava-se vantajosa neste tipo de táctica. Montavam à gineta, com loros curtos e ferro de boca em bridão, tirando partido da flexibilidade e da destreza dos seus cavalos árabes. Embora também usassem cotas de malha, os chamados lorigões, os seus escudos redondos eram mais pequenos e mais leves do que os oblongos dos cristãos, apelidados de cometa. Atacavam, fugiam, voltavam a atacar, em manobras que o cavaleiro pesado não conseguia acompanhar. Além disso, esgrimiam os dardos curtos, as espadas e os sabres com grande destreza.
Terras de Santiago |
Temos, assim, de um lado, cavaleiros pesados, com mais força de impacto, e, do outro, cavaleiros leves, com mais poder de manobra. Os cavaleiros pesados cristãos europeus correspondiam à nobreza, mas, em Portugal, existia outro tipo: os cavaleiros vilãos. Tratava-se de proprietários de terras com algumas posses, que lhes permitiam sustentar cavalo e comprar armamento. Estavam organizados em concelhos, territórios que não pertenciam a nenhum senhor nobre, e que tinham o seu centro na vila (daí, o nome de "vilãos"). Não raro, eram vistos com desprezo pelos nobres, por andarem mal armados. Porém, por isso mesmo, eram mais leves e destros. Além disso, estavam habituados a fossados em terras de mouros e a combates de fronteira, ou seja, conheciam as formas de luta dos muçulmanos.
Segundo Miguel Sanches de Baêna, em Ourique, Afonso Henriques terá apostado na destreza e na experiência dos seus cavaleiros vilãos, embora tal provocasse o desagrado dos seus barões:
Afonso acrescentou:
- Os cavaleiros vilãos de Coimbra e dos outros concelhos formam uma cavalaria bem mais ligeira do que nós.
Olhavam-no siderado. Fernando Mendes, o Braganção, não se conteve:
- Pudera! Faltam-lhes os recursos, andam mal armados e mal amanhados. Muitos deles nem sequer têm lorigão!
O príncipe conhecia o desprezo com que a nobreza nortenha tratava os cavaleiros sem pergaminhos. Mas ele, que lhes admirava a coragem e a astúcia, ripostou:
- Aprenderam as técnicas de construção dos arcos e das bestas dos infiéis e treinaram o seu uso a cavalo. Também as suas montadas dispõem de grande poder de manobra, são o resultado de cruzamentos com as raças árabes. É desses archeiros velozes a cavalo que nós precisamos, para dar cabo da infantaria de Ibn’Umar!
Estranho é o termo agora associado a "vilão".
ResponderEliminarBeijoca!