Como o Guardião lembrou, num comentário em Conquista de Santarém - a Preparação, estas regras eram constantemente infringidas. Na verdade, a Idade Média era uma época em que a disparidade entre "teoria" e "prática" era ainda maior do que hoje, pode-se mesmo dizer que se vivia de aparências. Ninguém queria saber o que cada um pensava na intimidade, tudo era público. Dava-se muita importância aos rituais, às encenações, aos gestos, ao cerimonial, etc. A disparidade entre o que a Igreja pregava e as práticas do dia-a-dia era enorme. O comportamento sexual, por exemplo, era muito leviano. Principalmente entre o povo havia muita tolerância, o casamento religioso só se começou a impor pelos séculos XII e XIII (Santa Isabel empenhou-se nesse aspecto). Além disso, apreciava-se a piada brejeira, capaz de fazer corar os mais destemidos habitantes do nosso século.
A situação com a cavalaria nobre era semelhante: apregoavam-se os seus valores, mas estes eram frequentemente desrespeitados, embora tivesse havido muitos nobres capazes de os levar a peito.
Imagem Manuel Morgado |
D. Afonso Henriques era um homem perfeitamente enquadrado na sua época. Não era especialmente sanguinário, mas também não era um poço de virtudes. Se ele usou métodos menos sérios para a conquista de Santarém, ninguém o acusou de nada, depois de ele ter ganho a cidade para a Cristandade. Os altos dignitários da Igreja também nunca se interessaram pelos métodos usados pelos cruzados na Terra Santa, conquanto estes fizessem as suas conquistas.
D. Afonso Henriques não era uma criatura sobrenatural, que levava a cabo uma missão que lhe fora confiada por Deus, como nos fizeram acreditar anos a fio. Não era santo, nem nunca o quis ser, foi alheio à tentativa de o santificar, iniciada séculos depois da sua morte. Era, sim, um homem inteligente, saudável e corajoso, que teve a sorte de se ver com poder nas mãos ainda novo e de viver muitos anos. O facto de ser primo de D. Afonso VII, imperador de toda a Hispânia, também o ajudou, pois este seu parente sempre o respeitou muito, evitando tomar atitudes radicais contra a sua insubordinação.
Quando te sei a viver na Alemanha a falar da conquista de Lisboa, até sinto um arrepio. Depois, tal como a Moody's, baixas o rating a D. Afonso, agora já não é santo!
ResponderEliminar;)
Santo ou não santo, respeitando ou infringindo as regras de cavalaria, acatando ou borrifando-se para as leis religiosas, a verdade é que o Grande Afonso fundou um reino que não era território desocupado. E para o ter conseguido, fartou-se de "dar à espada" e de fazer calos na peidola de tanto cavalgar (imagino... ainda ha pouco tempo fui de Lisboa ao Gerêz de carro, por auto-estrada e às tantas já estava farto de estar sentado).
ResponderEliminarSabes Cristina... apesar do tempo que passou entre um e outro, assim como as origens de nascimento, encontro muitas semelhanças entre Viriato e Afonso Henriques.
Era de meia-dúzia de gajos como eles que Portugal estava agora a precisar para meter esta cambada de xulos, toda nos eixos e pegar pelos gasganetes àqueles tipos das agências de rating, como Afonso Henriques pegou aquele bispo enviado pelo Papa, para o excomungar.
Sabias que a porta por onde Afonso Henriques entrou em Santarém foi demolida? Em vez de a tentarem recuperar acharam mais simples mandá-la abaixo...
ResponderEliminarAntónio e Bartolomeu, :)
ResponderEliminarNão sabia, Rafeiro. Pois, é mais fácil destruir do que construir...
A conquista de Lisboa... um dos maiores erros da nossa história. :))
ResponderEliminarSó para chatear o António?
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