Modelo de torre, utilizado no assalto a Lisboa (retirado do mesmo livro).
Durante o mês de Julho, os cruzados construíram máquinas de guerra: torres de assédio e trabucos. As hostilidades abriram-se a 3 de Agosto. Aqui, o ataque sob a perspectiva do cruzado Konrad e de seu irmão Johann, em A Cruz de Esmeraldas:
Para melhor se protegerem, os cruzados haviam construído paliçadas à volta das fundas baleares. As suas vestes acolchoadas, chamadas gibões, não resistiriam a um tiro certeiro de besta, que poderia mesmo perfurar a cota de malha de Konrad. A besta era bem mais eficaz do que o arco. Apesar de a sua cadência de tiro ser lenta, pois demorava a carregar, os projécteis atingiam distâncias mais longas e tinham muito maior poder de penetração.
(...)
- Que diabo - soltou Gunther. - Os mouros atacam-nos sem descanso!
Konrad também se admirava com isso, pois os besteiros precisavam de um certo tempo para carregarem as suas armas e fazerem pontaria. Os mouros, porém, pareciam incansáveis, apesar de se encontrarem sob o ataque dos pedregulhos. As suas setas espetavam-se nas paliçadas e uma ou outra encontrava mesmo o seu caminho por cima destas, provocando baixas entre os cruzados.
- Esperemos que os ingleses alcancem depressa as muralhas com a sua torre - disse Hadwig. - Que saltem lá para dentro e acabem com o diabo dos besteiros!
- Pois ainda não há sinal deles por sobre o adarve - retorquiu Konrad.
Preparavam-se para lançar mais um pedregulho, quando ouviram os gritos dos seus companheiros que operavam outro dos cinco trabucos. Depressa descobriram o motivo de tal arraial: a paliçada deles ardia!
- Mas que raio… - começou Gunther, quando um dos homens gritou:
- Os mouros disparam setas incendiárias!
- Abrigai-vos! - berrou Konrad, ao ver várias dessas setas virem na direcção deles.
Todos se baixaram. A maioria dos projécteis espetou-se na paliçada, mas um deles atingiu o trabuco, pegando-lhe o fogo.
- Dão-nos cabo dos engenhos - lamentou Johann.
Depois do trabalho que tinha dado a construí-los, a ideia de os ver consumirem-se à sua frente anulou o medo, começou-se a gritar:
Depois do trabalho que tinha dado a construí-los, a ideia de os ver consumirem-se à sua frente anulou o medo, começou-se a gritar:
- Água, depressa!
Muitos dirigiram-se com os seus cantis ao rio, outros prontificaram-se a ir buscar recipientes maiores ao acampamento. Porém, ao deixarem os seus abrigos, ficavam, mais do que nunca, à mercê das setas mouras. Em vão. Os fogos consumiam-lhes as fundas baleares num abrir e fechar de olhos.
- Temos que fugir daqui - gritou Konrad. - Nada podemos fazer para salvar os engenhos e ainda morremos queimados.
Os mouros, animados pelo êxito e livres do arremesso dos pedregulhos, cada vez disparavam mais. Apesar da sua pesada cota de malha, Konrad era dos mais rápidos. Muitos companheiros caíam mortos à sua volta, enquanto as setas zuniam como uma praga de gafanhotos por sobre a sua cabeça. Reparou que Johann ia ficando para trás e gritou-lhe:
- Mais depressa rapaz, mexe-te!
Mas o irmão estava no fim das suas forças. Konrad cerrou os dentes e deu meia volta, quando uma seta lhe atingiu o elmo de raspão. Atordoado, tropeçou num dos corpos inanimados e estatelou-se ao comprido. Rodeado pelos gritos dos feridos e moribundos, sentiu-se desesperar e, incapaz de se levantar, tapou a cabeça, na esperança de que aquele inferno passasse depressa.
Ouviu, porém, Johann a chamar por ele e arranjou coragem para erguer o olhar. O rapaz tentava alcançá-lo, tropeçando nos cadáveres. Konrad levantou-se, conseguiu chegar a ele, agarrou-o pela mão e arrastou-o consigo.
Ouviu, porém, Johann a chamar por ele e arranjou coragem para erguer o olhar. O rapaz tentava alcançá-lo, tropeçando nos cadáveres. Konrad levantou-se, conseguiu chegar a ele, agarrou-o pela mão e arrastou-o consigo.
Os seus pulmões queimavam, fazendo-os lutar por cada lufada de ar inspirado, quando chegaram ao acampamento. Mas estavam vivos.
Os cruzados decidiram mudar de táctica, construindo minas, a fim de alcançarem os fundamentos das muralhas. Mas os mouros logravam destruí-las, cavando contra-minas, que iam de encontro às dos cruzados. As vítimas aumentavam e foram organizados cemitérios perto dos acampamentos. Ingleses e franceses no lado ocidental, flamengos e alemães no oriental. D. Afonso Henriques mandou construir capelas para que se rezasse pelas almas dos mortos, capelas que deram origem à Igreja dos Mártires e ao Mosteiro de São Vicente de Fora.
Estiveste muito bem no livro.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarAté senti o silvar de um seta que me passou rente ao toutiço, só não sei se disparada pelos mouros ou pelos cruzados...
ResponderEliminarNesse tempo a ajuda externa pretendia construir Portugal.
Mudam-se os tempos...
ResponderEliminarCristina...
ResponderEliminare como arranjo os teus livros formato e-book...sabes?
Lá está...
mudam-se os tempos ;)
Não existem, caro editor69. Ainda são poucas as editoras que trabalham com esse formato, penso que é algo que se limita aos grandes grupos editoriais.
ResponderEliminarOlha Cristina, a cena do Konrad a tentar debandar sob o peso da cota, que imagino seria um esforço tremendo, é de tirar o fôlego a qualquer um.
ResponderEliminarMas, antes disso, tenho de realçar um outro aspecto. Já em 1147, as bestas demoravam mais tempo, mas penetravam mais fundo; tal como hoje, são sempre as bestas que encontramos mais "entranhadas" na carnuça.
;)))
Belíssima descrição, como sempre, Cristina!
:D
ResponderEliminarUm beijinho, Bartolomeu.