Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
31 de março de 2012
Opinião A Cruz de Esmeraldas
Publico hoje um extracto da opinião da Paula, do blogue ...viajar pela leitura...:
A beleza deste romance consiste, em grande parte na emoção com que Cristina Torrão nos descreve a luta deste homem em busca da felicidade. Um cristão e uma muçulmana mostram que o amor é uma linguagem universal e que a convivência entre diferentes povos e religiões é e foi sempre possível.
Para quem, como eu, não tem conhecimentos muito profundos da História de Portugal, este livro é uma excelente forma de conhecer as origens do nosso país.
29 de março de 2012
Ler nas Entrelinhas
A conhecida
editora Maria do Rosário Pedreira acusou-me de não saber ler nas entrelinhas.
Tudo por causa de um post de sua
autoria, que, a certa altura, dizia o seguinte:
«que a família não tinha hábitos
de leitura, embora comprasse livros do Círculo de Leitores para decorar as
estantes. E aqui acrescentou um detalhe fabuloso: que o pai uma vez lhe bateu
por ele ter retirado o celofane que cobria um volume de uma dessas colecções
(e, violência à parte, vejo nesse acto um respeito enorme pelo livro, que não
se podia estragar de maneira nenhuma)».
Isto deixou-me desconcertada. Como
pode a Dra. Maria do Rosário Pedreira classificar um acto destes de “respeito enorme
pelo livro”? Então os livros são para enfeitar, ou para ler? Abri a janela dos
comentários para pedir explicações: «Não percebi bem se está a ser
irónica ao ver nesse episódio do celofane um acto de respeito pelo livro que
não se podia estragar de maneira nenhuma.»
Resposta: «Não, não estava a ser irónica.
Porque para certas pessoas que quase não sabiam ler o livro era sagrado e tocar-lhe
poderia ser interpretado como profanação.»
Seguiu-se uma troca de impressões
sobre analfabetos que sentem respeito pelo livro, de que só me apercebi mais
tarde e, apanhada de surpresa, comentei: «Mas quem é que disse que o
senhor era analfabeto? O post não é
claro quanto a isso! Só diz que um pai bateu no filho, por ele tentar tirar o
celofane do livro, pois o livro servia de decoração. Deve-se depreender daí que
o senhor era analfabeto?»
E, nesta sequência, atrevi-me (ó,
injúria; ó sacrilégio) chamar a atenção da famosa editora: «Então, devia ter-se explicado
melhor. Dizer que "a família não tinha hábitos de leitura" não é a
mesma coisa que dizer que era analfabeta».
A famosa editora passou-me um
atestado de ignorância: «Quem lê nas entrelinhas não
precisa que lhe expliquem tudo, lamento».
Não desarmei: «Nada aqui refere o
facto de o pai ser analfabeto, pode-se interpretar para o outro lado: que
compravam os livros, apenas para enfeitar a estante, apesar de saberem ler».
Houve, então, um senhor Anónimo
que resolveu engraçar com a minha arte interpretativa: «Afinal não gosta só de
interpretar, também gosta de distorcer. Bravo!» E presenteou-me com o mimo:
«Sábia interpretativa».
Dei comigo a pensar: eu não
acredito! Estou aqui num blogue de uma grande editora e não se aceita uma interpretação diferente de um texto? Então, uma
das qualidades da literatura não consta das diferentes interpretações que
permite? Ou isso não é válido para editoras famosas?
Mas o melhor estava para vir: o
Sr. Anónimo acusou-me de «ler demasiado nas entrelinhas»!
OK, estamos conversados!
28 de março de 2012
Presos vão escrever livro
Os reclusos do Estabelecimento Prisional de Guimarães vão aprender escrita criativa para perpetuarem em livro as suas «memórias do cárcere», no âmbito de um projeto inserido na Capital Europeia da Cultura.
Parabéns a quem teve esta iniciativa! Normalmente, a auto-estima de quem está preso é muito baixa e há quem acabe numa cadeia porque nunca ninguém lhe ensinou a fazer algo de útil. A escrita de um livro pode ajudar muita dessa gente a descobrir faculdades desconhecidas, ou a conhecer o prazer de construir algo com as próprias mãos. Em suma: pode ajudá-los a serem pessoas melhores.
E quem vir esta iniciativa com desdenho - e comece a fazer afirmações do tipo: agora, qualquer um quer ser escritor; ou: não se é escritor porque se quer, mas porque se pode - está tão preso no seu mundo elitista, que perdeu o contacto com o real e não tem o mínimo de calor humano!
P.S. Espero que também se lembrem das mulheres, neste projecto!
Via Blogtailors
26 de março de 2012
Crónica d'Orelhudos
O escritor Luís Novais decidiu
iniciar uma nova fase na sua relação com os leitores e pôs o seu novo livro, Crónica
d’Orelhudos, à disposição, para
descarregamento gratuito, na internet.
O livro é assim apresentado «livre de custos de edição, de custos de impressão,
de custos de distribuição, de comissões e de todos aqueles encargos que a
logística nos habituou a pagar».
Confesso que ando igualmente a
pensar em algo semelhante, depois das experiências decepcionantes que tenho
feito com as editoras. Porque não aproveitar os recursos que as novas
tecnologias nos põem à disposição? Vou deixar amadurecer a ideia e depois digo
alguma coisa…
Para já, aproveitem esta oferta! Se
quiserem mais informações, é só ir ao blogue
do escritor, onde ficam igualmente a saber como podem contribuir
monetariamente. Mas, sublinho, o descarregamento é totalmente gratuito, o
eventual pagamento é livre e com a vantagem de o poderem fazer depois de lerem
o livro, se acharem que o autor o merece…
Uma opinião isenta e competente sobre
esta Crónica
d’Orelhudos também já foi dada pelo Manuel
Cardoso.
Outro selo
A Carla M. Soares enviou-me este selo (porque será que há vários em alemão?), que vem acompanhado de um questionário e que passo a responder:
Nome da minha música preferida:
Red Hot Chilli Peppers
Nome da minha sobremesa favorita:
Mousse de chocolate
O que me tira do sério:
Falta de honestidade
Quando estou chateada:
Costumava amuar, mas estou a aprender a dar cabo da paciência a quem me chateia
Qual o meu animal de estimação favorito:
A Lucy, claro (ver foto do meu perfil)
Preto ou Branco:
Dálmata
Maior medo:
Não respondo, tenho medo que se riam
Atitude quotidiana:
Apreciar as coisas simples
O que é perfeito?
Aquilo em que se acredita
Sete factos aleatórios sobre mim:
1 - Detesto fazer bolos
2 - Só sou capaz de escrever (livros) de manhã
3 - Caminho todos os dias cerca de duas horas com a Lucy
4 - Tenho a mania de fazer combinar as cores das molas com a roupa que ponho a secar (e nunca ponho duas molas de cores diferentes na mesma peça)
5 - Gosto de beber um copo de vinho (tinto ou branco) ao jantar
6 - Todos os dias luto comigo mesma para não comer chocolates. Ao fim-de-semana, rendo-me.
7 - Só ouço estações de rádio jovens, mesmo que os locutores de serviço me enervem (estar constantemente a recordar os anos 80/90 ainda me enerva mais)
Passo o selo aos seguintes blogues (têm de ser 10), porque gostava de ler as respostas dos seus autores a este questionário:
Açúcar Amarelo
A Gota de Ran Tan Plan
Avançando
antonioganhao
Blonde... with a phd
Crónicas de um Matemático Exilado no Mundo
Dias Imperfeitos
Dos Meus Livros
Viajar pela Leitura
Xaile de Seda
Quem passe por aqui e não faça parte da lista, sinta-se à vontade para levar o selo e responder ao questionário!
24 de março de 2012
Largueza (Volume 1)
Trata-se de uma obra muito informativa. A acção situa-se na segunda metade do século XIX e segue a vida da personagem principal, um ribatejano, que, depois de completar o seu curso na Academia Militar de Lisboa, é colocado, primeiro, na Índia e, depois, em Angola.
A vida do jovem no Ribatejo e em Lisboa e, como adulto, nos outros sítios por onde passou, é descrita ao pormenor: os hábitos, as comidas, as paisagens, etc. Nesse aspecto, o livro é muito interessante. Como romance, no entanto, torna-se exaustivo e requer muita resistência por parte do leitor. Não só para vencer as 800 páginas, mas também porque o enredo é bastante simples, sem grandes surpresas.
Além disso, senti falta de um certo sentido crítico por parte do autor. A personagem principal sabe sempre tudo e age sempre correctamente, de acordo com os princípios que lhe foram ensinados na infância e na juventude, por pessoas (entenda-se, homens) igualmente sem defeitos e de uma moral ímpia. A sua acção nas colónias é exemplar, alimentando o mito de que os portugueses foram melhores colonizadores do que ingleses e alemães, por exemplo. Se assim foi, não sei porque Portugal, hoje em dia, está onde está. Mas talvez o próprio romance dê a resposta, nesta passagem:
"Falaram dos diamantes como não podia deixar de ser, que tão importantes eram para prosseguir os projectos de desenvolvimento da metrópole, ainda em escombros e tão atrasada... os hospitais, caminho-de-ferro e telégrafo, estradas, portos... tanta coisa para fazer e tanta falta de recursos neste país onde a agricultura era pobre e a inexistência de matérias-primas, minerais e outras limitavam a instalação das grandes indústrias... a solução estava portanto nas colónias!"
Ou seja: 'bora lá explorar a terra dos outros, para desenvolvermos a nossa!
E, afinal, deu um resultadão, andar atrás das riquezas das colónias...
Outros dois aspectos que me incomodaram: a caça é um "vício", faz parte da vida de um homem, por isso, é lícito que o faça por prazer, ou que ande apenas atrás de marfim; as mulheres servem quase exclusivamente para se dedicarem aos seus homens e, quando estes as deixam, resta-lhes sofrer em silêncio, compreendendo a necessidade que eles têm de mudança!
Enfim, um outro mundo, e talvez fosse mesmo assim, no século XIX.
Depois destas 800 páginas, sinto grande necessidade de ler outros livros, pelo que o segundo volume terá de esperar...
23 de março de 2012
Por Tierras d l Rei*
À época da Reconquista cristã da península ibérica, a primitiva linha de limites do condado portucalense com o reino de Leão desenvolvia-se ao longo da margem esquerda do rio Sabor até à sua confluência com a ribeira de Angueira. Esta raia era vigiada por quatro sentinelas principais: o Castelo de Milhão, o Castelo de Santulhão (ambos já desaparecidos), o Castelo de Outeiro de Miranda (em ruínas) e o Castelo de Algoso.
Entre o dia 30 de Março e 1 de Abril, a AEPGA realiza mais uma edição do Passeio de Burro intitulado “Por Tierras d l Rei” para descansar e simplesmente contemplar a natureza na companhia do Burro de Miranda. Por encostas, entre vinhas e olivais, por entre enormes sobreiros e paisagens deslumbrantes o passeio decorre em direcção a Terras de Algoso, onde sobranceiro ao vale do rio Angueira, sob um imponente afloramento rochoso, se encontra o castelo de Algoso.
Foto Cláudia Costa |
*Mirandês
21 de março de 2012
Adoro esta frase!
Para mim, escrever é tão divertido como tocar música.
Porque é mesmo isso. Um escritor precisa tanto de escrever, como um músico precisa de tocar música, um pintor precisa de pintar, um escultor precisa de esculpir, um bailarino precisa de dançar. Pode até tornar-se uma obsessão; pode até impedir-nos de fazer outras coisas divertidas; pode até deixar-nos esgotados. Mas é sempre algo que nos faz esquecer as horas e o mundo à nossa volta. É sempre algo sem o qual não imaginamos viver.
Porque é mesmo isso. Um escritor precisa tanto de escrever, como um músico precisa de tocar música, um pintor precisa de pintar, um escultor precisa de esculpir, um bailarino precisa de dançar. Pode até tornar-se uma obsessão; pode até impedir-nos de fazer outras coisas divertidas; pode até deixar-nos esgotados. Mas é sempre algo que nos faz esquecer as horas e o mundo à nossa volta. É sempre algo sem o qual não imaginamos viver.
19 de março de 2012
Imprimir como Gutenberg
Agora, que estamos a iniciar a era dos livros electrónicos, nada como regressar às origens. Foi isso mesmo que nos aconteceu na nossa visita à lindíssima catedral gótica de Magdeburgo.
Deparamos, sem o saber, com uma exposição sobre publicações da Bíblia ao longo dos tempos, na qual o ponto forte eram as lindíssimas versões da Idade Média, escritas e ilustradas à mão.
Peço desculpa pelos reflexos das vitrinas nas fotografias. Na próxima, que mostra um pormenor, não existe esse problema:
Mas a Bíblia foi também o primeiro livro impresso (em alemão: das erste gedruckte Buch)
Por isso, a exposição foi aproveitada para lembrar aquele que revolucionou o mundo dos livros. Três estudantes imprimiam gratuitamente, com os meios de Gutenberg, uma página, para quem a quisesse levar.
Claro que não resistimos à oferta e aqui está o resultado, que levámos para casa:
É uma passagem do Evangelho de São João (14,6) : Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim.
Deparamos, sem o saber, com uma exposição sobre publicações da Bíblia ao longo dos tempos, na qual o ponto forte eram as lindíssimas versões da Idade Média, escritas e ilustradas à mão.
Peço desculpa pelos reflexos das vitrinas nas fotografias. Na próxima, que mostra um pormenor, não existe esse problema:
Mas a Bíblia foi também o primeiro livro impresso (em alemão: das erste gedruckte Buch)
Por isso, a exposição foi aproveitada para lembrar aquele que revolucionou o mundo dos livros. Três estudantes imprimiam gratuitamente, com os meios de Gutenberg, uma página, para quem a quisesse levar.
Claro que não resistimos à oferta e aqui está o resultado, que levámos para casa:
É uma passagem do Evangelho de São João (14,6) : Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim.
18 de março de 2012
Exposição São Teotónio
São Teotónio, confessor de D. Afonso Henriques e Prior do Mosteiro de Cónegos Regrantes de Santa Cruz de Coimbra, foi o primeiro português a ser canonizado. A fim de assinalar os 850 anos da sua morte, o Museu Grão Vasco, em Viseu, tem patente uma exposição sobre aquele que é igualmente o Patrono da Diocese e da Cidade de Viseu. A visitar, até 1 de Julho.
17 de março de 2012
865 Anos da Conquista de Santarém (3)
O Bartolomé Bauzá é repetente, pois já ganhou um passatempo aqui no Andanças. E eu tornei a render-me à sua escrita, que, por acaso, é em castelhano (ou espanhol?), pois ele receia que o seu português não chegue para uma escrita correcta. Bartolomé compara o romance (ou novela, como ele diz) histórico com a História "fria", limitada às datas e aos factos, esquecendo a paixão, o sofrimento e o sangue. Lembra-nos que o cronista medieval também se servia da sua arte para fazer um relato mais excitante. Inventava? "Qué más da?" É a História-Ciência mais exacta do que aquela que nos faz sentir as emoções, ouvir os gritos, cheirar os aromas?
Felizmente, hoje em dia, os historiadores estão mais sensibilizados para questões desse tipo. É, de qualquer maneira, uma discussão interessante, que Bartolomé apresenta, à sua maneira original:
Felizmente, hoje em dia, os historiadores estão mais sensibilizados para questões desse tipo. É, de qualquer maneira, uma discussão interessante, que Bartolomé apresenta, à sua maneira original:
Santarém como excusa
El debate es antiguo.
El paradigma actual es presentar
una historia basada en
hechos comprobables,
fechas,
cifras,
referencias cruzadas…
Pero no fue siempre así.
Antes, la Historia era narrada y
oída:
Vivida…
…Os mouros não resistiram por muito mais tempo. Os
guerreiros de Afonso tomaram conta de todos os edifícios e compartimentos da
fortaleza, matando os homens e violando as mulheres por sobre o sangue que
manchava os tapetes e as almofadas das luxuosas alcovas.
De alguna manera, el narrador
colaboraba en la gesta histórica.
En última instancia,
su arte,
su don,
su elocuencia,
su saber decir
estaban al servicio de los
protagonistas.
Y de su audiencia, claro.
Detalles magnificados,
inventados,
¿qué más da?:
si dan vida a hechos que los
HISTORIADORES DE VERDAD han vuelto fríos.
Que la Historia no es sino pasión:
contada,
cantada,
oída…
La novela histórica no engaña.
O lo hace menos que la pretendida
Historia,
que en base a unos pocos datos
ciertos, contrastados, construye una historia que es
pequeña,
incompleta,
parcial
pero nos hace creer que es
grande,
completa,
enteriza…
Quando o Domingo, dia 15 de Março de 1147,
amanheceu, já os gritos de sofrimento e agonia tinham cessado. E era o
estandarte do rei português, com os seus escudetes azuis em forma de cruz, que
a brisa sacudia no cimo da torre de menagem da alcáçova de Santarém…
Yo,
ahora, estoy en la alcazaba de Santarém, en la torre del homenaje.
La
batalla ha sido terrible.
El
olor a sangre,
humo,
dolor,
envuelve
mi alrededor.
Oigo
distante el flamear al viento del estandarte
d’el
Rey.
Ahora
estoy cansado. Mañana, veré con nitidez la barbarie:
las
violaciones,
los
pillajes,
la
matanza…
Los
HISTORIADORES DE VERDAD dirán –escuetamente- que Santarém fue saqueada.
16 de março de 2012
865 Anos da Conquista de Santarém (2)
Já me habituei a deparar com situações insólitas, ou com as obsessões humanas, nos textos do Exilado. Aqui, ele juntou as duas coisas. E a expressão escrita em árabe deu o toque final. Digamos que a conquista de Santarém, sem a sua vertente árabe, não é a mesma coisa...
Talvez fruto de uma maturidade conferida pelos seus já quase 40 anos de idade, o mesmo Afonso que em tempos tivera o descaramento de lutar contra a sua própria mãe, começava agora a dar mostras de uma sensibilidade — ou insegurança, quem sabe — que anos antes teria sido difícil de se lhe reconhecer.
Também aqui
Foi
bom?
por Exilado no Mundo
Talvez fruto de uma maturidade conferida pelos seus já quase 40 anos de idade, o mesmo Afonso que em tempos tivera o descaramento de lutar contra a sua própria mãe, começava agora a dar mostras de uma sensibilidade — ou insegurança, quem sabe — que anos antes teria sido difícil de se lhe reconhecer.
Depois de
conquistado o castelo escalabitano, Afonso tomou para si a moura mais
encantadora do imenso grupo de jovens desamparadas e recolheu com ela aos
seus improvisados aposentos. Seria natural que, após uma noite na qual saciou a
seu bel-prazer as mais profundas necessidades de homem no ativo, Afonso
recompusesse as vestes, colocasse a espada à cintura e saísse para
reunir as tropas. Os preparativos com vista à grande conquista de Lisboa, já a
poucas dezenas de léguas de distância, assim o exigiam.
No entanto,
na hora de se afastar do circunstancial leito de conquistas íntimas, Afonso
hesitava. E contemplava a bela moura ainda deitada, qual troféu arrebatado pelo
lado pessoal deste multifacetado e bem-sucedido conquistador. Mas para Afonso
não bastava. Precisava de saciar no espírito aquela que ultimamente se tornara
uma dúvida tão frequente quanto a sua necessidade de satisfação corporal.
Os seus
parcos conhecimentos em língua árabe nem por sombras lhe permitiam questionar a
jovem moura — e menos ainda entender o que quer que ela lhe pudesse
responder. Por gestos, tornava-se ainda mais difícil. Restava-lhe uma única
possibilidade. Mandou chamar o especialista em língua árabe e transmitiu-lhe a
pergunta que deveria ser feita. De imediato, o tradutor, sem grandes rodeios,
inquiriu-a: كان من الجيد؟
Afonso nem precisou de
esperar pela tradução da resposta. O afirmativo menear de cabeça da jovem e
o generoso sorriso que lhe acompanhou o gesto foram mais do que
suficientes para o seu necessário esclarecimento. Afonso sentiu-se mais
confiante do que nunca.
Também aqui
15 de março de 2012
865 Anos da Conquista de Santarém (1)
A publicação do texto da Ana Sofia Allen inicia a série dedicada aos 865 Anos da Conquista de Santarém. Ela teve a interessante ideia de falar por um ser vivo que a tudo assistiu e sobreviveu, até hoje, para o contar: um carvalho. E eu, ao ler o texto, desejei ter sido esse carvalho:
"Eu sou um ser que vive, entenda-se. Os meus braços alimentam
outros seres viventes e dão sombra a quem se senta no meu colo. Um carvalho
pode ser um grande amigo, a quem confiam os seus segredos. As crianças em meu
redor são a energia que me aquece e as juras gravadas no meu tronco, memórias
antigas.
Entre elas, a daquele dia: nada se sentia no ar,
nada do que estava para acontecer. O frio cortante do fim de tarde cobria o som
dos cascos de cavalos a chegar a Santarém.
À noite, do alto da minha copa, vi três vultos a
aproximarem-se das muralhas com uma escada enorme; a partir daí os dados
estavam lançados…O estranho neste ataque era o mudo entendimento entre pares. A
camaradagem entre os cavaleiros e o rei era a força por detrás da razia, que
parecia fulminante.
No final, a lua, minha companheira, tão testemunha
do massacre como eu, escondeu-se e com ela foram-se os gritos, os medos e os
ódios deixados para trás. Em cada pedra das muralhas um lamento se gravou, e na
bandeira então içada, ondulavam as cores da vitória!
A euforia dos novos amos alimentou-se do mito de
tesouros escondidos e neste planalto mirante de grandes e férteis planícies, a
vida ergueu-se novamente como os novos rebentos da Primavera.
Mesmo passado 865 anos,
este episódio continua presente em mim. A conquista de Santarém fez-se por
pessoas comuns que ousaram dar liberdade aos seus sonhos, mas o código de honra
dos cavaleiros foi ignorado e, em vez disso, a força invisível que eu senti, naquela
madrugada de 15 de Março, tornar-se-ia o prenúncio de uma identidade futura,
cujas raízes se cravavam na terra funda."
Ana Sofia Allen
14 de março de 2012
Resultado do Passatempo
Muito obrigada pelas vossas participações! Três textos agradaram-me tanto, que me deixaram em dificuldades. São completamente diferentes uns dos outros e aí é que reside o problema, pois é muito difícil compará-los.
Conclusão: resolvi premiar os três! O que beneficia o assinalar dos 865 Anos da Conquista de Santarém, aqui no Andanças, que se prolongará de 15 a 17 de Março. A partir de amanhã, os textos vão ser publicados, um de cada vez, durante três dias seguidos. Numa pequena introdução, darei as razões da minha escolha.
E os vencedores são:
Ana Sofia Allen
Exilado no Mundo
Bartolomé Bauzá
Parabéns! Cada um vai receber um exemplar autografado de Afonso Henriques - o Homem.
Mais uma vez, o meu agradecimento aos outros participantes. Aproveito para dizer que surgirão outras oportunidades.
Conclusão: resolvi premiar os três! O que beneficia o assinalar dos 865 Anos da Conquista de Santarém, aqui no Andanças, que se prolongará de 15 a 17 de Março. A partir de amanhã, os textos vão ser publicados, um de cada vez, durante três dias seguidos. Numa pequena introdução, darei as razões da minha escolha.
E os vencedores são:
Ana Sofia Allen
Exilado no Mundo
Bartolomé Bauzá
Parabéns! Cada um vai receber um exemplar autografado de Afonso Henriques - o Homem.
Mais uma vez, o meu agradecimento aos outros participantes. Aproveito para dizer que surgirão outras oportunidades.
13 de março de 2012
Rainhas em vez de Reis
Era para publicar este post no Dia Internacional da Mulher, mas não consegui aprontá-lo a tempo. Enfim, diz-se que o Natal é quando um homem quer. E eu digo que o Dia Internacional da Mulher é quando uma mulher quer! E, embora o mundo esteja cheio de mulheres anónimas, que lutam pela vida, decidi homenagear uma que nasceu em berço de ouro, pela simbologia que ela encerra.
Durante séculos (ou milénios) a sucessão real fazia-se por via masculina, ou seja, o sucessor do trono era sempre o filho varão mais velho, sem contar com as irmãs nascidas antes dele. Na Suécia, pôs-se fim a esta tradição a 1 de Janeiro de 1980, quando ficou decidido que a primeira criança a nascer, independentemente do seu sexo, é o/a herdeiro/a do trono. Foi assim que a princesa Victoria, nascida em 1977, passou à frente do irmão, príncipe Carl Philip, nascido em 1979.
Em 1998, porém, a Suécia sofreu um choque, quando, numa cerimónia pública, a princesa surgiu extremamente magra. A Casa Real teve de admitir que ela sofria de bulimia. Começou a discussão: seria ela incapaz de arcar com a responsabilidade? Tinha sido um erro optar por ela, em relação ao irmão? Na altura, a princesa queixou-se da perseguição dos media, alegando que precisava de experimentar uma vida normal, anónima, antes de arcar com as suas responsabilidades. E foi para os EUA, onde esteve dois anos a estudar, na Universidade de Yale.
Regressou com bom aspecto, mais conscienciosa e até se inscreveu num ginásio, a fim de tratar da sua saúde física. Um ano mais tarde, em 2001, o novo choque: Victoria apaixonara-se pelo jovem dono do ginásio que frequentava, de seu nome Daniel Westling (nascido em 1973).
Começou uma grande batalha da princesa contra todos aqueles, incluindo a própria família, que não achavam Daniel Westling digno de fazer par com a herdeira do trono e, mais uma vez, os suecos se perguntavam se ela teria discernimento suficiente para tomar a decisão certa. Ela provou ser persistente, anos a fio, até que a família cedeu e Daniel Westling foi iniciado nos procedimentos oficiais. Durante muito tempo, porém, não era autorizado a aparecer ao lado da princesa nas cerimónias públicas.
Há cerca de dois anos, mais uma dificuldade para Victoria: Daniel, que sofre de uma doença renal, piorou de tal maneira, que teve de ser operado. Mais: o pai dele teve de lhe ceder um dos seus rins, a fim de lhe salvar a vida. Foram tempos dramáticos para a princesa, que se dividia entre os seus compromissos e as visitas ao hospital, onde o noivo esteve, algum tempo, em risco de vida.
Os dois superaram a crise e casaram, finalmente, a 19 de Junho de 2010.
A 23 de Fevereiro passado, Victoria deu à luz uma menina, a quem se pôs o nome de Estelle e que se tornou automaticamente na nº 2 na sucessão do trono sueco, logo a seguir à mãe. O que quer dizer que, depois do actual rei Carl Gustav, e durante, pelo menos, duas gerações (que espero sejam bem longas), a Suécia terá uma rainha, em vez de um rei.
Desejo muitas felicidades à princesa Victoria e à sua princesinha Estelle!
Durante séculos (ou milénios) a sucessão real fazia-se por via masculina, ou seja, o sucessor do trono era sempre o filho varão mais velho, sem contar com as irmãs nascidas antes dele. Na Suécia, pôs-se fim a esta tradição a 1 de Janeiro de 1980, quando ficou decidido que a primeira criança a nascer, independentemente do seu sexo, é o/a herdeiro/a do trono. Foi assim que a princesa Victoria, nascida em 1977, passou à frente do irmão, príncipe Carl Philip, nascido em 1979.
Em 1998, porém, a Suécia sofreu um choque, quando, numa cerimónia pública, a princesa surgiu extremamente magra. A Casa Real teve de admitir que ela sofria de bulimia. Começou a discussão: seria ela incapaz de arcar com a responsabilidade? Tinha sido um erro optar por ela, em relação ao irmão? Na altura, a princesa queixou-se da perseguição dos media, alegando que precisava de experimentar uma vida normal, anónima, antes de arcar com as suas responsabilidades. E foi para os EUA, onde esteve dois anos a estudar, na Universidade de Yale.
Regressou com bom aspecto, mais conscienciosa e até se inscreveu num ginásio, a fim de tratar da sua saúde física. Um ano mais tarde, em 2001, o novo choque: Victoria apaixonara-se pelo jovem dono do ginásio que frequentava, de seu nome Daniel Westling (nascido em 1973).
Começou uma grande batalha da princesa contra todos aqueles, incluindo a própria família, que não achavam Daniel Westling digno de fazer par com a herdeira do trono e, mais uma vez, os suecos se perguntavam se ela teria discernimento suficiente para tomar a decisão certa. Ela provou ser persistente, anos a fio, até que a família cedeu e Daniel Westling foi iniciado nos procedimentos oficiais. Durante muito tempo, porém, não era autorizado a aparecer ao lado da princesa nas cerimónias públicas.
Há cerca de dois anos, mais uma dificuldade para Victoria: Daniel, que sofre de uma doença renal, piorou de tal maneira, que teve de ser operado. Mais: o pai dele teve de lhe ceder um dos seus rins, a fim de lhe salvar a vida. Foram tempos dramáticos para a princesa, que se dividia entre os seus compromissos e as visitas ao hospital, onde o noivo esteve, algum tempo, em risco de vida.
Os dois superaram a crise e casaram, finalmente, a 19 de Junho de 2010.
A 23 de Fevereiro passado, Victoria deu à luz uma menina, a quem se pôs o nome de Estelle e que se tornou automaticamente na nº 2 na sucessão do trono sueco, logo a seguir à mãe. O que quer dizer que, depois do actual rei Carl Gustav, e durante, pelo menos, duas gerações (que espero sejam bem longas), a Suécia terá uma rainha, em vez de um rei.
Desejo muitas felicidades à princesa Victoria e à sua princesinha Estelle!
12 de março de 2012
Passatempo encerrado
Encerrou o passatempo 865 Anos da Conquista de Santarém. Obrigada a todos os participantes. Irei agora proceder à escolha do texto vencedor, que será publicado a 15 de Março, o próprio dia do aniversário deste acontecimento.
11 de março de 2012
Desta vez, é um dardo!
Estamos em época de prémios, por aqui. Depois do Liebster Blog (na barra lateral), foi o André Nuno do Pensar nos Livros e a Carla M. Soares do monster blues que decidiram honrar-me com o Prémio Dardos.
"O Prémio Dardos reconhece os valores que cada blogueiro mostra em cada dia no seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais... que, em suma, demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre as suas letras, entre as suas palavras."
A aceitação deste reconhecimento implica três regras:
1- Se aceitar, exibir a imagem.
2- Linkar o blog do qual recebeu o prémio.
3- Escolher 15 blogs para entregar o Prémio Dardos.
Muito obrigada, Carla e André Nuno. E aqui vão os 15 blogues que decidi bombardear com os dardos (por ordem alfabética):
A Gota de Rantanplan, da Teresa
antonioganhao, do próprio
Crescendo Nas Palavras, da Virgínia do Carmo
Destante, de vários
Dias Imperfeitos, da Ana Lima
Déjà Lu, da Idónea Bibliotecária
Em 2711, de vários
És a nossa Fé, de vários
estórias com livros, da rosa
Meditação na Pastelaria, da Ana Cristina Leonardo
O Cheiro dos Livros, do Fallorca
Páginas com Memória, da Joana Dias
Pó dos Livros, do Jaime Bulhosa
Tempo Contado, do J. Rentes de Carvalho
Tertúlia de Sabores, da Moira
"O Prémio Dardos reconhece os valores que cada blogueiro mostra em cada dia no seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais... que, em suma, demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre as suas letras, entre as suas palavras."
A aceitação deste reconhecimento implica três regras:
1- Se aceitar, exibir a imagem.
2- Linkar o blog do qual recebeu o prémio.
3- Escolher 15 blogs para entregar o Prémio Dardos.
Muito obrigada, Carla e André Nuno. E aqui vão os 15 blogues que decidi bombardear com os dardos (por ordem alfabética):
A Gota de Rantanplan, da Teresa
antonioganhao, do próprio
Crescendo Nas Palavras, da Virgínia do Carmo
Destante, de vários
Dias Imperfeitos, da Ana Lima
Déjà Lu, da Idónea Bibliotecária
Em 2711, de vários
És a nossa Fé, de vários
estórias com livros, da rosa
Meditação na Pastelaria, da Ana Cristina Leonardo
O Cheiro dos Livros, do Fallorca
Páginas com Memória, da Joana Dias
Pó dos Livros, do Jaime Bulhosa
Tempo Contado, do J. Rentes de Carvalho
Tertúlia de Sabores, da Moira
10 de março de 2012
Pré-publicação #4
-
Não sei o verdadeiro motivo para a tua aflição. Mas sei que a vida não é fácil,
não tão simples como se costuma pensar. Dividimos tudo entre bem e mal, pecado
e virtude, certo e errado. Mas é tudo uma questão de perspectiva. O que é bom
para mim, não quer dizer que o seja para outro; o que me dá prazer, pode ser um
sacrifício para outro.
-
Achais mesmo que a fronteira entre pecado e virtude é tão ténue?
-
Muita gente é apontada como virtuosa, por passar a vida na igreja. E, no
entanto, revela-se violenta, invejosa, ou tirana, dentro de sua casa. As suas
horas passadas a rezar e a fazer penitências, vistas como sacrifício, ou como
uma grande devoção, muitas vezes, não passam de uma fuga à vida que não lhe
agrada. Não é a sua proximidade com Deus que a leva a isso, pois não aplica os
ensinamentos de Cristo no seu dia-a-dia. Trata-se mais de uma maneira de se
afirmar, de se sentir livre para decidir, mesmo que isso implique supliciar-se.
Pode-se dizer que uma pessoa dessas merece o céu?
8 de março de 2012
Operação Valquíria
Eu até nem gosto de Tom Cruise, mas ele está quase irreconhecível neste filme. A pala no olho também ajuda (talvez devesse actuar sempre assim), mas muito do mérito vai para o realizador Bryan Singer que o disciplinou numa representação muito contida, sem trejeitos nem sorrisos imbecis.
Operação Valquíria agradou-me, é muito fiel aos factos reais, passe um ou outro tique sensacionalista, próprio dos americanos. Trata-se de um atentado falhado a Adolf Hitler, em Julho de 1944. Mesmo sabendo o final da história, o filme é construído com muito suspense, fica-se, até ao fim, numa esperança ingénua de que Hitler esteja mesmo morto e que a guerra acabe um ano mais cedo.
Houve várias tentativas de matar Hitler, todas falhadas, uma delas levada a cabo pelo general Henning von Treskow, aqui interpretado por Kenneth Branagh, conseguindo pôr uma bomba num avião em que o ditador embarcou, mas que, por algum motivo, não chegou a explodir. Por isso, também o general Henning von Treskow se junta ao grupo de conspiradores à volta do coronel Claus von Stauffenberg, interpretado por Cruise.
Claus von Stauffenberg assiste à explosão que ele mesmo provocou e regressa a Berlim na convicção de que Hitler está morto. Uma vez na capital alemã, inicia todo o processo de desmantelar o regime nazi, que passa pela prisão dos elementos da SS Gestapo, a fim de poder negociar, o mais depressa possível, um cessar-fogo com os Aliados, provocando uma autêntica revolução.
As novas ordens são cumpridas, em muitos casos, com entusiasmo, pelo simples motivo de acreditarem na morte de Hitler. Quando esta é desmentida, tornam a mudar de atitude. Cobardia? "Vira-casacas"? Não há dúvida de que se trata de medo, de puro medo! Um medo que passa para o espectador, que também se pergunta o que faria, naquela situação, pois é certo que qualquer traidor será executado. Este estado de espírito culmina na cena em que Goebbels, o chefe da Gestapo, está na iminência de ser preso, na minha opinião, um dos melhores momentos do filme.
Escusado será dizer que o coronel Claus von Stauffenberg e muitos dos seus colaboradores são executados, nessa mesma noite.
Este filme lembra-nos que o terror da ditadura nazi também se fez sentir na própria Alemanha. Não estou a negar que montes deles eram nazis por convicção. Mas também é verdade que, com uma arma apontada à cabeça, qualquer um de nós se pode transformar num assassino.
7 de março de 2012
Ainda o selinho
Recebi-o novamente, desta vez, enviado pela Carla M. Soares, que me dá nova oportunidade de o reenviar a cinco blogues com menos de 200 seguidores, solicitando-lhes que façam o mesmo:
(embora não saiba quantos seguidores tem)
6 de março de 2012
Entrevista (6)
Extracto da entrevista dada à Joana Dias do Páginas com Memória:
Qual dessas grandiosas personagens históricas a impressionou mais, e porquê?
Pelos motivos mencionados, D. Afonso Henriques. D. Dinis foi um grande rei, mas “limitou-se” a dar continuidade à obra do pai. D. Afonso III tinha posto ordem no reino, fazendo muitas reformas legislativas. E, apesar de não ser poeta, foi ele que introduziu o trovadorismo na corte. D. Afonso Henriques iniciou algo de novo, fundou uma nacionalidade, que, quase 900 anos depois, ainda existe.
E alguma delas a decepcionou do ponto de vista humano? Ou isso não aconteceu?
No geral, não me decepcionaram, pelo contrário: a partir dos factos históricos, julgo ter descoberto facetas sensíveis que ninguém supunha. Mas, já que falamos nisso, penso que D. Dinis me decepcionou um pouco na maneira como lidou com o seu filho e herdeiro. Nessa época, educavam-se as crianças de maneira diferente e era inclusive de bom-tom que monarcas mantivessem uma certa distância, não mostrando os seus sentimentos. Mas não teria ele maneira de evitar que o filho se empenhasse tanto na sua luta contra o pai? Porque beneficiou ele tanto o seu ilegítimo, Afonso Sanches? Penso que, no conjunto da sua obra magnífica, essa foi uma grande falha do Rei Lavrador.
Ler a entrevista completa aqui e aqui.
Qual dessas grandiosas personagens históricas a impressionou mais, e porquê?
Pelos motivos mencionados, D. Afonso Henriques. D. Dinis foi um grande rei, mas “limitou-se” a dar continuidade à obra do pai. D. Afonso III tinha posto ordem no reino, fazendo muitas reformas legislativas. E, apesar de não ser poeta, foi ele que introduziu o trovadorismo na corte. D. Afonso Henriques iniciou algo de novo, fundou uma nacionalidade, que, quase 900 anos depois, ainda existe.
E alguma delas a decepcionou do ponto de vista humano? Ou isso não aconteceu?
No geral, não me decepcionaram, pelo contrário: a partir dos factos históricos, julgo ter descoberto facetas sensíveis que ninguém supunha. Mas, já que falamos nisso, penso que D. Dinis me decepcionou um pouco na maneira como lidou com o seu filho e herdeiro. Nessa época, educavam-se as crianças de maneira diferente e era inclusive de bom-tom que monarcas mantivessem uma certa distância, não mostrando os seus sentimentos. Mas não teria ele maneira de evitar que o filho se empenhasse tanto na sua luta contra o pai? Porque beneficiou ele tanto o seu ilegítimo, Afonso Sanches? Penso que, no conjunto da sua obra magnífica, essa foi uma grande falha do Rei Lavrador.
Ler a entrevista completa aqui e aqui.
4 de março de 2012
Opinião "A Cruz de Esmeraldas" II
Extractos da opinião do Manuel Cardoso em Dos Meus Livros:
Levantado do Chão de José Saramago e Vagão J de Vergílio Ferreira foram livros que me marcaram. Porquê? Pela sua singeleza, pelo encanto que é recuar às origens de um génio; da mesma forma, a leitura deste livro de Cristina Torrão, que marca o arranque da sua carreira literária, é uma experiência interessante.
Emana deste pequeno romance o perfume de um humanismo notável. Já neste primeiro livro, Cristina Torrão faz a apologia de uma convivência pacífica entre cristãos, mouros e também judeus, em torno de uma espécie de panteísmo, como se o Deus de todos os povos fosse um e único.
Um aspecto curioso desta obra é o seu carácter didáctico: que proveitoso seria se este livro fosse lido por todos os estudantes de história. A linguagem utilizada torna-o acessível a qualquer grau do ensino e a beleza com que a ficção adorna a verdade histórica torna este livro muito atractivo e de fácil leitura.
Levantado do Chão de José Saramago e Vagão J de Vergílio Ferreira foram livros que me marcaram. Porquê? Pela sua singeleza, pelo encanto que é recuar às origens de um génio; da mesma forma, a leitura deste livro de Cristina Torrão, que marca o arranque da sua carreira literária, é uma experiência interessante.
Emana deste pequeno romance o perfume de um humanismo notável. Já neste primeiro livro, Cristina Torrão faz a apologia de uma convivência pacífica entre cristãos, mouros e também judeus, em torno de uma espécie de panteísmo, como se o Deus de todos os povos fosse um e único.
Um aspecto curioso desta obra é o seu carácter didáctico: que proveitoso seria se este livro fosse lido por todos os estudantes de história. A linguagem utilizada torna-o acessível a qualquer grau do ensino e a beleza com que a ficção adorna a verdade histórica torna este livro muito atractivo e de fácil leitura.
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