Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

26 de abril de 2015

E soltaram-se os prisioneiros



Libertava-se a plenos pulmões a repressão acumulada durante décadas. As vozes, os punhos erguidos, os cravos nas mãos. «O povo unido jamais será vencido». E dezenas de jornalistas e fotógrafos, flashes, perguntas…
Esposas, maridos, pais, filhos, amigos em êxtase. Mal acreditando que aqueles por quem aguardavam saíam em liberdade. Ansiavam por os abraçar, por festejar com eles.
Fomos engolidos pela multidão, era um nunca mais acabar de abraços e lágrimas. Alguns tentavam desesperados furar o mar de gente, a fim de se juntarem aos seus.
Outros não tinham ninguém à sua espera… 
Eu não tinha ninguém à minha espera. 
Seria a única? 
Nunca o averiguei.
No início, nem pensei em tal. Cheguei a responder a algumas perguntas de jornalistas e houve quem me abraçasse, nem sei se era gente que conhecia. 
Depois, comecei a ficar atordoada. À medida que as pessoas se encontravam e iam ficando juntas, crescia o meu isolamento. Dei-me conta da minha solidão. Estivera presa, fora torturada, era agora libertada e ninguém em particular me aguardava em júbilo, recebendo-me e amparando-me no seu calor, no seu amor.
Nem pai, nem mãe.
Ninguém.



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