Libertava-se
a plenos pulmões a repressão acumulada durante décadas. As vozes,
os punhos erguidos, os cravos nas mãos. «O povo unido jamais será vencido». E
dezenas de jornalistas e fotógrafos, flashes,
perguntas…
Esposas,
maridos, pais, filhos, amigos em êxtase. Mal acreditando que aqueles por quem aguardavam
saíam em liberdade. Ansiavam por os abraçar, por festejar com eles.
Fomos
engolidos pela multidão, era um nunca mais acabar de abraços e lágrimas. Alguns
tentavam desesperados furar o mar de gente, a fim de se juntarem aos seus.
Outros não tinham ninguém à sua
espera…
Eu não tinha ninguém à minha espera.
Seria a única?
Nunca o averiguei.
No
início, nem pensei em tal. Cheguei a responder a algumas perguntas de jornalistas
e houve quem me abraçasse, nem sei se era gente que conhecia.
Depois, comecei a ficar atordoada. À
medida que as pessoas se encontravam e iam ficando juntas, crescia o meu
isolamento. Dei-me conta da minha solidão. Estivera presa, fora torturada, era
agora libertada e ninguém em particular me aguardava em júbilo, recebendo-me e
amparando-me no seu calor, no seu amor.
Nem
pai, nem mãe.
Ninguém.
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