Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

4 de julho de 2016

O Primeiro Manifesto



Excerto do meu romance, respeitante ao primeiro manifesto que Dom Dinis apresentou contra o filho:

A 1 de Julho daquele ano de 1320, Dinis mandou ler o manifesto nos paços reais da alcáçova de Santarém, na presença dos seus nobres conselheiros e dos Mestres das Ordens militares.
O rei começava por referir a ingratidão do filho, não obstante as mercês com que o cumulara e à sua esposa. Invocava os conflitos que haviam existido entre Afonso Sanches e o 2º conde de Barcelos Martim Gil de Riba de Vizela, referindo que havia tentado a concórdia entre os dois, por amor do infante meu filho, com quem ele (Martim Gil) andava, não evitando, porém, que o conde se tivesse feito vassalo do rei de Castela. Em vez de condenar tal atitude, tendo em conta a desonra que representava para o próprio monarca seu pai, o príncipe manifestara amizade e solidariedade ao desertor, uma afronta que ele, o rei, não podia calar, apesar de já se haverem passado oito anos.
Dinis referia-se ainda às discórdias que o haviam oposto a Frei Estêvão Miguéis e a seu sobrinho Dom Fernando Ramires, que haviam intrigado junto do príncipe, incitando-o a desobedecer ao pai. Acusava o bispo de Lisboa de haver usado o dinheiro que lhe dera para custear as negociações na Santa Sé, a fim de comprar a sua nomeação e a do sobrinho para os bispados de Lisboa e do Porto.
O monarca apresentou ainda a prova documental do comendador de Magazela, onde se negava liminarmente os atos de acusação sobre o envenenamento, e confessava haver suportado e encoberto, até àquele ponto, todas as ofensas que recebera do filho, na esperança de que ele se corrigisse. A sua paciência e a sua tolerância haviam-se, porém, esgotado porque vejo que seu mal é já tanto e cada dia vai pior.
Dinis finalizava dizendo que jamais provocara ou quisera provocar qualquer dano ao herdeiro do trono, solicitando, por exemplo, a legitimação de Afonso Sanches. E já pedira a João XXII a prova documental. Na sua opinião, o único motivo que movia o príncipe era a inveja que ele tinha daquele seu irmão, por Afonso Sanches sempre ter sido obediente ao pai, estando ao seu serviço e fazendo a sua vontade.


O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

Sem comentários: