Embrenhou-se
na serra, correndo sem parar, com a trouxa na mão. Não fugia apenas do
mosteiro. Fugia também do turbilhão de sentimentos que alastrava no interior do
seu peito, como o vinho de um cálice tombado numa toalha de linho. Fugia, como
se o virar das costas à mancha negasse a sua existência.
Mesmo
quando já sentia falta de ar e as pernas lhe doíam, ela continuou a galgar
os caminhos íngremes da serra.
Chegou
ao moinho de rastos e deixou-se cair no chão, a respirar às golfadas.
Não
deu conta de se acalmar. A certa altura, tomou consciência do frio, dos pés
gelados, sem saber há quanto tempo ali se encontrava. Rastejou até ao canto das
mantas e assim ficou, tolhida, sem expressar qualquer reação. Ignorava fome e
sede, ignorava tudo o que significasse vida, esse albergue de sensações e
pensamentos que a aterrorizavam.
Só ao escurecer foi acordando daquele transe, que ia, enfim,
sendo perfurado pelos espinhos da dor.
De vez em quando temos mesmo que fugir...e galgar a dor.
ResponderEliminarVerdade, George Sand.
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