Havia
magoado a irmã para além do razoável, uma irmã que tudo lhe tinha perdoado, que
dela tratara, que a ajudara…
Mas,
então, porque sentia agora aquela sensação de liberdade, como se tivesse
cortado amarras antigas? Sempre receara que a lembrança da irmã lhe trouxesse
sofrimento. Em vez disso, estava em paz consigo própria, uma luz parecia
iluminá-la por dentro, acreditando que Deus se encontrava, não fora, mas dentro
de cada um.
Acabara
de cumprir o seu destino de soldadeira e sentia-se como se estivesse a rezar!
Queria isso dizer que possuía realmente uma natureza pecadora, má e
desprezível, que era uma ingrata?
(…)
Estava
profundamente agradecida à irmã, por ela a ter salvo contra a vontade da
família. Apenas não achava legítimo que esse agradecimento condicionasse a sua
vida, que vivesse em função dele. Se alguém, por ter salvo outrem, o
considerasse propriedade sua e o mantivesse sob o seu favor, a fim de o
condicionar e controlar os seus desejos, passos e decisões, esse alguém estava
mais a pensar em si próprio do que no outro. Estava a tentar ser feliz através
do outro, roubando-lhe a sua luminosidade, talvez por ele próprio se sentir
escuro e vazio. E, se lhe tirava o direito de escolher o seu próprio caminho, é
porque não o amava.
Sem comentários:
Enviar um comentário