Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

23 de maio de 2013

Divagações Abrilinas (8)



A mãe da Vera seguira o início da Simplesmente Maria, uma radionovela transmitida pela Rádio Renascença, em 1973/74: uma moça de província foi para Lisboa trabalhar como criada de servir e acabou por engravidar de um qualquer marmanjo que por lá conheceu. A mãe tentou explicar-lhe porque é que aquilo era tão grande pecado:
- É pecado, uma coisa muito feia, uma moça solteira engravidar.
- Porquê?
- Porque é.
- Mas os namorados não dão beijinhos?
- Dão.
- E os bebés não são feitos com beijinhos?
- Só as senhoras casadas é que têm filhos – acabou a mãe por dizer, de voz um pouco alterada, como sempre fazia, quando tentava emanar autoridade. - Onde já se viu, as meninas solteiras terem filhos? É uma coisa muito feia.
- Mas tu gostas da Maria da radionovela e ela teve um filho solteira.
- Está caladinha e não digas mais disparates!

Imagem daqui


2 comentários:

Bartolomeu disse...

Apesar de os argumentos da mãe não convencerem e muito menos, ajudarem a menina a compreender porque é que engravidar, sendo solteira, oriunda da província, estando a trabalhar em casa de alguém, como serviçal, era pecado; não retirava o sentido real à "coisa".
Era de facto pecado!
E era-o, na medida em que, pecado, está convencionado que é tudo aquilo que ofende a Deus. E tudo aquilo que O ofende, é prejudicial para os humanos. Se colocarmos os factores na ordem inversa, o sentido não se altera.
Portanto, salvo raríssimas excepções, uma menina que viesse da província e engravidasse solteira, veria a sua vida transformada num inferno, enquanto o diabo esfrega um olho. Logo, era pecado. Mas hoje, actualmente já não podemos dizer que seja tanto pecado como era naquela época. No entanto, uma menina que venha da província, solteira, trabalhar ou estudar para a capital e a quem um marmejo qualquer engravide; se não optar por abortar, se a família não a apoiar, se o marmejo não anuir viver com ela e partilhar as dificuldades inerentes à criação de um filho, está feita ao bife. O que resulta num semi-pecado.
Portanto, e tentando sintetizar; o melhor é não escutar radionovelas, caso seja solteira, tenha vindo da província e se encontre com um qualquer marmejo, por aí!
;))

Cristina Torrão disse...

Realmente, caía-se no inferno (e ainda se cai, conforme as circunstâncias), logo, será pecado, é verdade.

Mais uma vez, bem visto, Bartolomeu ;)