Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

30 de dezembro de 2014

Os Segredos de Jacinta - Excertos (7)



- Há um ano, el-rei D. Afonso chegou a temer pela cidade de Coimbra, quando os mouros ousaram um ataque ao castelo templário de Soure. Os cavaleiros do Templo lograram afugentar os infiéis, mas estes deixaram um rastro de destruição atrás de si: casas e campos incendiados, colheitas destruídas e cadáveres espalhados. Dos cristãos sobreviventes, fizeram cativos.
Jacinta e a irmã Hildegarda quedavam-se angustiadas, o cavaleiro prosseguiu:
- Numa tentativa de vingar o ataque e libertar os cativos, os Templários iniciaram uma série de represálias que redundaram em pesada derrota. Os combatentes foram quase todos mortos e um pároco bondoso, D. Martinho de Soure, foi capturado.
- Valha-nos Deus!
- Ninguém mais soube do seu paradeiro e muita gente pranteia o seu sumiço. Era incansável no seu auxílio aos pobres, até se dizia que era santo. Há cousa de um mês, o alcaide de Leiria juntou-se a cavaleiros de Coimbra, que se dirigiam para um fossado, na esperança de conseguir libertar D. Martinho de Soure, caso ele ainda estivesse vivo. Pedro Antunes e eu fomos incluídos no contingente. – Engoliu em seco. – Nada conseguimos. Pedro foi atingido por uma flecha e trouxemo-lo para casa, mas chegámos a pensar que não chegasse cá vivo. O físico de D. Soeiro Pais Mouro diz que a operação é arriscada demais, que a flecha está muito próxima do coração. E o homem arde em febre…



29 de dezembro de 2014

A Citação da Semana (41)

«Para compreenderes o coração e o raciocínio de uma pessoa, não olhes para aquilo que ela alcançou, mas para aquilo que ela cobiça».

Khalil Gibran


26 de dezembro de 2014

Os Segredos de Jacinta - Excertos (6)



- Tirámos o chiadouro a muita mourama – acrescentou Bartolomeu. – Começámos por reconquistar Leiria. Depois, atravessámos um grande rio chamado Tejo e um outro chamado Guadiana. Por onde passávamos, atacávamos as povoações, devastávamos os campos, destruíamos as colheitas e apoderávamo-nos das riquezas.
- Ninguém nos molestou – prosseguiu Ataulfo, – as hostes mouras achavam-se ocupadas num cerco para os lados de Toledo. Mas, quando já vínhamos de volta, os infiéis cortaram-nos o caminho.
- Ali estávamos nós, com aqueles despojos todos, os cativos e os animais, naquela terra de ninguém, de uma secura tão grande, que todos os arbustos se convertem em palha. Não há florestas, nem há nada. Só o sol, que nos queima e deixa a terra seca e dura.
- Foi quando surgiu um grande arraial mouro – intrometeu-se o Bartolomeu, alargando os braços – três vezes maior do que o nosso e comandado por cinco reis! Começámos a encomendar as nossas almas. Mas el-rei prometeu-nos a vitória.
- El-rei? - admirou-se Laurinda. - El-rei de Leão também lá estava?
- Qual Leão, qual carapuça – retorquiu Ataulfo. – El-rei D. Afonso Henriques, por nós proclamado!



23 de dezembro de 2014

Boas Festas!

O Andanças vai estar praticamente sem atividade até à segunda semana de janeiro e não queria deixar de desejar a todos os comentadores e seguidores um Bom Natal e um excelente ano de 2015!


20 de dezembro de 2014

Uma história de Natal vinda do Leste

Qualquer ditadura é exímia em propaganda, nós portugueses sentimo-lo na pele durante quase cinquenta anos. Costumamos, porém, ligar ditadura a regimes de direita, esquecendo-nos de que os de orientação esquerdista não lhes ficavam atrás. Venho, a este propósito, referir a propaganda que escolhia o público infantil como alvo (porque «de pequenino se torce o pepino»), na antiga República Democrática Alemã (para quem não sabe, a parte da Alemanha comandada pelo imperialismo soviético e que desapareceu, com a queda do Muro de Berlim).

Li sobre este caso na KirchenZeitung. Klara Kolhoff, de 18 anos, como tantos outros jovens alemães, sabe que não existia se o Muro de Berlim não tivesse caído. A sua mãe é originária de Osnabrück, o seu pai nasceu na antiga RDA. Apesar do fim do comunismo, o pai não esqueceu as suas origens e, quando Klara e o irmão eram pequenos, leu-lhes a história do Hirsch Heinrich (O Veado Heinrich), originária da Alemanha de Leste, um livro cheio de imagens coloridas, animais, neve e crianças felizes. Apesar disso, Klara lembra-se que, tanto ela como o irmão, não gostaram muito e, ao contrário do que costumava acontecer, não quiseram que o pai lhes lesse a história uma segunda vez.


O caso foi esquecido, até que Klara, frequentadora do 11º ano, precisou de um tema para um trabalho escolar sobre a RDA. Pesquisando na Biblioteca de Osnabrück, ela ficou a saber que a ditadura comunista se refletia na literatura infantil. Os livros deviam contribuir para a formação de uma «personalidade socialista», despertar a ideia de «lar socialista», assim como desenvolver a «predisposição para a defesa e a amizade em relação à União Soviética e a solidariedade por todos os regimes socialistas/comunistas do mundo».

Klara descobriu então que quase nada no Hirsch Heinrich era por caso. O veado, originário da China, foi parar a um zoo alemão. Toda a gente era muito simpática com ele, tratava-o bem e visitava-o regularmente, pelo que depressa esqueceu as saudades do seu país - aqui, a alusão à solidariedade entre todos os países comunistas. Com a aproximação do Natal, porém, as visitas das crianças tornaram-se mais raras e o veado decidiu saltar a cerca, tentando regressar à China. Uma vez no meio do bosque, em liberdade, viu-se atacado por medos e preocupações.


A mensagem era evidente: a vida fora do coletivo socialista era solitária e difícil. O veado Heinrich acabou por regressar ao zoo, onde vivia em cativeiro, pois era lá que existia quem tomasse conta dele. Ao fazer uma leitura mais atenta, Klara encontrou ainda uma crítica camuflada à religião cristã. Foi com a aproximação do Natal que começaram os problemas do veado Heinrich. E uma cena no bosque é ainda mais evidente: quando o animal se preparava para comer uma couve que fora ali abandonada, os sinos de uma igreja nas proximidades começaram a troar. Heinrich assustou-se e fugiu, horrorizado com o barulho. Foi mesmo este percalço que o convenceu a voltar ao cativeiro seguro.



18 de dezembro de 2014

Os Segredos de Jacinta - Excertos (5)



Algo nela lutava contra a carapaça que a envolvia e a deixava alheia ao mundo. Sentia-se como se tentasse acordar. Estaria ainda deitada na sua cama, a sonhar?

Não. No sonho, tudo era escuro, como se fosse noite. E agora o sol envolvia-a e dava-lhe a ver a natureza, que, por sua vez, parecia observá-la. No sonho, vira-se a cair bem no meio do rio, de repente, tudo acabado num ápice. Na realidade, teria de caminhar pelo próprio pé, um passo atrás do outro, ao encontro da morte… As próprias águas haviam sido negras… Baixou o olhar e não se recordava de as ter visto tão claras como naquele dia, cintilando aos raios de sol. Os seus pés sobre a areia dourada, as pedras, os peixes…. Tudo era tão límpido e puro…



16 de dezembro de 2014

Sugestões de Natal

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13 de dezembro de 2014

Os Segredos de Jacinta - Excertos (4)




Arribavam os cativos mouros ao adro da igreja, três dezenas de homens, mulheres e algumas crianças, que Soeiro Pais Mouro e Mem Moniz de Gondarém tencionavam manter como escravos domésticos ou de lavoura. E ofereceriam, com certeza, alguns aos seus cavaleiros mais chegados.

O povo olhava horrorizado para aquela gente, envolta em trapos e a quem o pó e a sujidade da marcha davam uma compleição ainda mais miserável e mais escura. Era então esta a catadura dos pagãos, pareciam constatar os olhos que os miravam, assim eram aqueles que renegavam os ensinamentos de Cristo! E só não os maltratavam, porque os fidalgos, desejosos de manter aquela mão-de-obra gratuita, velavam pela sua segurança. Ainda assim, alguns começaram a cuspir-lhes em cima.

Jacinta estremeceu àquele gesto. Trazia-lhe recordações que a levavam a identificar-se com aquela gente. Sentiu-se na pele deles, que se mantinham de cabeça baixa, um misto de revolta e tristeza no olhar. As crianças berravam, agarradas às mães, mas estas não tinham forças para as consolarem. Sujeitas a um sofrimento atroz, haviam desistido das suas emoções.