Há seis anos, comprei, na Feira do Livro do Porto,
seis livrinhos da Coleção Essencial da INCM, a 1 € cada. Entretanto,
constatei que alguns títulos estão à disposição para descarregamento gratuito no
site do Instituto Camões, outros podem ser
comprados na Loja
Online da INCM.
Li, finalmente, os títulos que, na altura, escolhi, pelo
que dou aqui a minha opinião sobre cada um deles.
- O essencial
sobre José Saramago, de Maria Alzira Seixo
Foi interessante ler um livro publicado em 1987 sobre
a obra de Saramago, bem antes de ele ter ganho o Prémio Nobel. A Jangada de Pedra surgira havia pouco
tempo (1986) e já tinham sido dados à estampa outros dois grandes romances: Memorial do Convento (1982) e O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984).
Interessante foi também conhecer o percurso e a
evolução no nosso único Nobel, que começou discreto, com poesia pouco digna de
nota e uns primeiros passos atabalhoados na ficção, ainda sem o estilo que o
haveria de caracterizar. O escritor construiu uma carreira ao longo de várias
décadas, à custa de muito esforço e perseverança, pois não se movia entre a
nata do mundo editorial português, se bem que a sua ligação ao jornalismo lhe
facilitou um pouco a vida.
- O essencial
sobre a Cultura Medieval Portuguesa (séculos XI a XIV), de José Mattoso
Devido à falta de espaço, este estudo é pouco, ou
nada, aprofundado. O autor limita-se a dar algumas informações, frisando a diferença
entre o «Norte cristão e rural» e o «Sul moçárabe e urbano» e traçando, em
linhas gerais «o processo de aculturação», sem esquecer, claro, que a cultura
erudita estava ligada ao meio eclesiástico. Quem pretende iniciar-se neste
tema, o livrinho pode ser útil; para quem se ocupa da Idade Média há mais de quinze
anos, nada acrescenta. Mas é sempre bom ler José Mattoso. De notar que a edição
é de 1993.
- O essencial
sobre Filosofia Política Medieval, de Paulo Ferreira da Cunha
Há uma grande preocupação, por parte do autor, de
condensar muita informação em pouco espaço. Este volume, publicado em 2005, é
mais grosso do que os outros, o tipo de letra é mais pequeno e há longas listas
bibliográficas, para quem quiser aprofundar o tema. No seu conteúdo, o livro
não passa de uma listagem de filósofos mais influentes, começando com (Aurélio)
Agostinho (sécs. IV-V), passando pelo inevitável São Tomás de Aquino (séc.
XIII) e acabando com Guilherme de Ockham (sécs. XIII-XIV) que serviu de
inspiração a Umberto Eco para a personagem principal de O Nome da Rosa.
- O essencial
sobre o Romanceiro Tradicional, de J. David Pinto-Correia
Uma boa base para a iniciação no Romance Tradicional,
um género narrativo-dramático popular, de tradição oral (pelo que, muitas
vezes, há várias versões para o mesmo enredo) que teve as suas origens na Baixa
Idade Média, alimentado por «episódios de antigos cantares de gesta, fragmentos
de histórias noticiosas elaboradas por jograis e sequências de intrigas
provenientes do fundo baladístico europeu». De salientar a transcrição integral
de alguns romances (edição de 1986).
- O essencial
sobre o Cancioneiro Narrativo Tradicional, de Carlos Nogueira
Este volume, editado em 2002, dedica-se às cantigas
narrativas difundidas por cantores populares e cegos pedintes, cuja origem remonta
aos séculos XVI e XVII e que eram promotoras «das ideologias, das normas de
comportamento e dos valores religiosos basilares para a vida individual e
social». Fazer uma inventariação destas cantigas narrativas não é fácil, já que
não há registos escritos. As cantigas transcritas neste volume são resultado de
uma recolha de vários investigadores que, ao longo do século XX, visitaram
várias localidades portuguesas, a fim de ouvirem as cantigas pela voz de
populares.
- O essencial
sobre a Literatura de Cordel Portuguesa, de Carlos Nogueira
Em conjunto com os últimos dois volumes citados, este
livro, ou será melhor dizer, o estudo da literatura de cordel, é mesmo
essencial para se entender a cultura popular e o modo de vida de gerações de
portugueses, cultura e costumes que influenciaram as mentalidades e a cultura
denominada erudita. À altura da publicação, em 2004, o autor lamentava estar
«ainda por fazer uma reflexão de conjunto sobre a literatura de cordel
portuguesa», que, «fecundado por uma óptica transdisciplinar, traria com
certeza dados surpreendentes para o esclarecimento de várias zonas sombrias ou
intocadas da nossa teoria literária ou textual, bem como do comportamento
social e da mentalidade portuguesas».
Este tipo de literatura costuma ser
menosprezado e, no entanto, «os textos que circulavam sob a forma de folheto
alcançavam um público vasto e de condição socioeconómica muito diversa»,
começando pela própria corte. Resta acrescentar que a literatura de cordel contou
com a participação de autores hoje consagrados, como Camilo Castelo Branco,
que, em 1848, publicou um folheto, que não assinou, com o curioso título (os
títulos longos não eram raros, neste tipo de publicações): Maria, Não Me Mates Que Sou Tua Mãe! Meditação sobre o espantoso crime acontecido
em Lisboa; uma filha que mata e despedaça sua mãe. - Mandado imprimir por um
mendigo, que foi lançado fora do convento, e anda pedindo esmola pelas portas.
Offerecido aos paes de famílias e àqueles que acreditam em Deus.