Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

26 de dezembro de 2010

Espírito de Natal

Há quem se alegre com a aproximação do Natal, há quem fique deprimido. Uma das desvantagens de viver no estrangeiro é aquele sentimento de não se pertencer verdadeiramente a lado nenhum. Muitas vezes, a viagem "à terra" acaba em decepção, quando certos parentes fazem questão de nos mostrar que, a partir do momento em que escolhemos um outro lugar para viver, dificilmente nos voltaremos a integrar no círculo íntimo. Pergunto-me de que terão medo...




Mais uma vez, fiquei na Alemanha, até porque não gosto de andar de avião (e este ano até arriscava passar o Natal no aeroporto). Mas o jantar da Consoada não me saiu bem. É no que dá, experimentar receitas novas em dias destes...

No dia de Natal, a Lucy começou a mostrar sinais de impaciência logo às oito da manhã. Lá me levantei e fui dar a volta habitual com ela, ainda antes do pequeno-almoço. Estavam dez graus negativos, as ruas desertas, a neve acumulada em todos os cantos e eu com aquele vazio... Mas onde estava o espírito de Natal?  Porque se esquecia ele de mim?

Ao longe, vi o dono de um cão que conheço de vista, a passear com o dito cujo. Quando nos cruzámos, em vez do habitual "Guten Morgen" (bom dia), saiu-me: "Frohe Weihnachten" (Feliz Natal). O homem olhou-me surpreendido, mas logo abriu um grande sorriso e respondeu: "Danke, gleichfalls" (obrigada, igualmente).

Continuei o meu caminho, sentindo-me mais quente por dentro, como se tivesse bebido um café ou um chá reconfortante. Acho que foi por fazer alguém sorrir. Alguns metros mais à frente, apercebi-me de que se aproximava um ciclista, por trás de mim. Há muitos ciclistas por aqui, eu própria ando muitas vezes de bicicleta. Mas, com este frio... Ainda por cima, o passeio tinha apenas uma faixa estreita limpa de neve. Ainda pensei: não me desvio, o passeio é para os peões, ele que mude para a rua. Mas a rua estava  escorregadia. E era Natal. Parei, cheguei a Lucy a mim e deixei espaço para o ciclista passar. O homem abriu um grande sorriso e disse qualquer coisa como: "Mas que simpatia! Muito obrigado." Tive que sorrir também, ao responder: "De nada".

Quando cheguei a casa, o Horst já tinha preparado o pequeno-almoço: o café quentinho, o pão torrado e estaladiço, a manteiga... Falámos sobre os presentes que tínhamos trocado no serão anterior. A sensação reconfortante tomava cada vez mais conta de mim, preenchendo o vazio...

Afinal, ele lembrou-se de mim, o espírito de Natal!



7 comentários:

jota disse...

Muito bom. Fico feliz por ter recebido a visita do Espírito de Natal.

No caso foram as pequenas entrega, os pequenos passos de abertura aos outros que aquecem o coração e tornam o céu mais azul.

Em resposta ao comentário no meu blog, não foi por acaso que usei a palavra comodismo algures. Não me vejo realmente a sair de casa dos meus pais. É por comodismo, também, mas por amor, a minha mãe não aguentaria sozinha a doença do meu pai (apesar de eu não ajudar assim tanto, mas a presença é bem mais importante que a ajuda).

E sim, sinto-me protegido porque tenho eles ao pé de mim. É difícil explicar... quando a compra do carro tornou-se realidade, a minha mãe acabou por ajudar-me ouvindo-me, dando-me mimo. Consegui ir em frente com menos sofrimento do que se tivesse sozinho. É este tipo de protecção, que um dia... enfim, se a lei na vida for normal, deixarei de ter.

Mas o meu texto ajudou-me bastante. Escrever no blog é uma espécie de terapia. Assim que o terminei, comecei a viver o meu Natal de uma forma bastante mais descontraída e positiva. Sempre é mais barato que ir a um psicólogo, mas tudo tem um preço e arrisco-me a ter poucos leitores... mas desde que seja bons, como é o caso, fico tranquilo e feliz.

Continuação de um Feliz Natal!

antonio ganhão disse...

Ele existe dentro de nós, só temos mesmo de lhe dar uma oportunidade...

Daniel Santos disse...

Fotografias de um bonito natal branco... que inveja.

Rafeiro Perfumado disse...

E que esse espírito se prolongue pelo ano! Beijoca!

Cristina Torrão disse...

Obrigada a todos pela atenção e pelas palavras simpáticas.

Feliz Ano Novo (apesar da crise...)

©carmen zita disse...

Tão bonito, o seu texto.

Cristina Torrão disse...

Obrigada :)