Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

22 de junho de 2012

Minha Querida Inês


Foi o primeiro livro que li de Margarida Rebelo Pinto e peguei nele cheia de preconceitos, tanto se tem criticado a autora e a sua literatura light. Bem, convenhamos que o título faz prever o pior e só me resolvi a ler por se tratar de um romance histórico sobre os últimos dias de Inês de Castro

A autora possui, na verdade, uma tendência para clichés e repetições desnecessárias. Lidas as primeiras páginas, estive para desistir. O romance parecia sustentar o mito de uma Inês sofredora e sem defeitos, vítima de um rei de maus fígados. Confesso, porém, que a minha insistência foi recompensada, acabei por me surpreender pela positiva.

Com a sua escrita emotiva, Margarida Rebelo Pinto consegue momentos muito fortes e introduz elementos interessantes, ao, por exemplo, apresentar-nos os acontecimentos sob outras perspetivas, que não a de Inês de Castro. Além disso, D. Pedro está longe de ser um homem cego pela paixão. É, antes, um bissexual promíscuo, que insiste naquele amor com o único fito de contrariar o seu pai, passando por cima dos sentimentos de Inês.

Só é pena que a relação, digamos, atípica, entre D. Pedro e D. Afonso IV (pai e filho), não seja mais aprofundada, pois, na minha opinião, é esse o motivo principal da tragédia. Já vai sendo tempo de nos livrarmos dos mitos camonianos (sem pôr em causa a excelência do poeta). Considero o momento alto deste romance a exposição das razões do próprio D. Afonso IV para exercer um ato tão bárbaro, ditas por ele próprio, a Inês, no dia da execução.

Esta será uma boa leitura para quem esteja aberto a diferentes interpretações da História, disposto a passar por cima de alguns choradinhos (como referir o “meu pequeno e frágil coração”, ou a irritante insistência em apelidar os filhos de “os meus anjinhos”) e de frases francamente enjoativas, como: “E quão extenso é um abismo entre os machos viris e as frágeis fêmeas! É o poder e a sede da guerra que os domina, enquanto nós apenas queremos amar e ser amadas."

2 comentários:

  1. Conseguiu deixar-me curiosa! Mas as frases feitas da senhora...mmm...não sei!

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  2. É uma maneira diferente de apresentar o mito de Pedro e Inês. É aí que está o "charme" do livro.

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