Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

16 de fevereiro de 2012

Personagens inesquecíveis

Há uns tempos, no 2711, chamava eu a atenção para o facto de J.R.R. Tolkien ter sido recusado para o Prémio Nobel, há 50 anos, o que nos levou à questão do valor literário de livros que vendem como pãezinhos quentes. Mas sucesso comercial não quer necessariamente dizer fraca qualidade. E há certos livros, que, não sendo obras-primas da literatura, contêm em si a fórmula que os catapulta para o imaginário colectivo.

Lembrei-me disso ao ler que um fã das obras de J.R.R. Tolkien criou uma árvore genealógica de todas as personagens que habitam o mundo fictício da "Middle Earth" (...) O aficionado (um engenheiro químico sueco) disponibilizou a árvore online na semana passada e o projecto já envolve 703 personagens, mas Johansson acredita que ainda lhe faltam cerca de 100 (via Blogtailors).

Outros livros há que levam os seus fãs a confundirem ficção com realidade. Muita gente está convencida de que Sherlock Holmes existiu e há turistas em Londres, que, vendo-se na Baker Street, vão à procura do número 221B, para tirarem fotografias à casa onde viveu o mais famoso detective da História! Acontece que, como Sherlock Holmes, também o número 221B era, à altura, produto da imaginação de Sir Arthur Conan Doyle. Quando a Baker Street foi aumentada, o número 221 passou realmente a existir, o que, aliás, tem causado alguns problemas, como se pode ler aqui.

A qualidade literária dos livros de J.K. Rowling deixa muito a desejar. Mas ela conseguiu algo que 99% dos vencedores de Nobel nunca conseguirão: o seu Harry Potter, além de fazer parte do imaginário colectivo, também é usado como metáfora aceite no mundo literário e entendida a nível mundial. Num post sobre ficção científica para crianças, li o seguinte: Que livros do género são apropriados para crianças? Haverá algum tipo de Harry Potter na ficção científica?

Livros e personagens que transcendem a vida de quem os criou. Se isto não é talento...

3 comentários:

Imperatriz Sissi disse...

Concordo a 100% em relação ao professor Tolkien. O Silmarillion é uma obra imortal, muito sufocada pelo sucesso estrondoso do Senhor dos Anéis. Um dos meus livros favoritos, primorosamente detalhado e com personagens de uma intensidade enorme!

Carla M. Soares disse...

A questão da "qualidade" literária também é complexa. O que a dita? A critíca? O gosto de cada um? O tempo que perdura? A credibilidade das narrativas? Temos uma certa tendência para encaixar os livros em categorias que nos são ditadas (este é bom, mesmo que seja chato, aquele devora-se,mas não tem qualidade), e a ignorar um aspeto que me parece importante e que faz dos Harry Potters obras de qualidade: a capacidade para, de forma efetiva, pôr as pessoas a ler sem, na realidade, as "deseducar". Mais importante ainda quando se trata da juventude.
Nem sequer quero falar do Senhor dos Anéis, que sofreu sempre do triste anátema de ser uma obra de fantasia e, como tal, "secundária"

Cristina Torrão disse...

Sim, eu também penso que é preciso muito cuidado, quando se trata de pôr a juventude a ler, quer dizer, temos a tendência para lhes impor os nossos gostos, esquecendo que é muito importante que eles desenvolvam a capacidade de efectuar as suas próprias escolhas. E ridicularizar ou menorizar as suas leituras preferidas pode ser muito contraproducente.

E há a eterna questão da "qualidade" literária, claro.