Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

20 de julho de 2011

A Conquista do Pólo Sul

A sua «corrida contra-relógio» com o inglês Robert Scott, que Amundsen acabou por vencer ao chegar em primeiro lugar à meta, às três da tarde do dia 14 de Dezembro de 1911, é uma das aventuras mais admiráveis do século XX. Amundsen e Scott protagonizaram um duelo inesquecível. No entanto, a bandeira que ficou no extremo mais austral da Terra foi a norueguesa». In Gayban Grafie.

Sim, foi o norueguês quem ganhou. Mas, para mim, o herói foi o vencido: Robert Scott. A sua amargura é visível na fotografia que, ainda assim, a equipa inglesa tirou, para a posteridade, quando atingiu o Pólo Sul, em Janeiro de 1912, e constatou que tinha perdido a corrida.

Scott é o do meio, atrás

Robert Scott embarcou na aventura, deu o tudo por tudo, mas não conseguiu chegar em primeiro lugar. Nada mais lhe restava do que regressar, depois de tirar a fotografia. Essa viagem de regresso prova que se pode viver o inferno num dos lugares mais frios do mundo. Vi uma série televisiva, já há muitos anos, em que se dava conta da luta daqueles homens, pelo meio de tempestades de neve e temperaturas gélidas, usando um equipamento longe de ser eficaz. Tinham milhares de quilómetros a percorrer e teriam de o fazer antes de começar o Inverno antárctico, em Março.

As forças foram faltando, o frio e as tempestades de neve surgiram mais cedo do que o esperado, membros da equipa morreram pelo caminho. Um desgaste incrível, não só físico, como psicológico. Quando já só restavam Robert Scott e dois companheiros e se encontravam a apenas 11 milhas de uma estação de reabastecimento, os três estavam esgotados, já só se mexiam por instinto, como se fossem tele-comandados. Montaram a tenda no meio de uma tempestade, deitaram-se aconchegados uns nos outros... E nunca mais se levantaram.

Impressionante são as últimas linhas que Scott escreveu no seu diário, a muito custo, quando se apercebeu de que os seus dois companheiros, encostados a ele, um de cada lado, já haviam partido deste mundo. Essas últimas linhas incluíam uma carta a sua mulher, Kathleen Scott. O casal tinha um filho de apenas três anos.





"Dear it is not easy to write because of the cold — 70 degrees below zero and nothing but the shelter of our tent — you know I have loved you, you know my thoughts must have constantly dwelt on you and oh dear me you must know that quite the worst aspect of this situation is the thought that I shall not see you again."


A tenda só foi encontrada vários meses mais tarde, depois do Inverno austral, que acaba em Setembro. E só o foi por sorte, pois estava quase completamente soterrada pela neve. Os três cadáveres estavam congelados lá dentro. As mãos de Robert Scott ainda seguravam a caneta e o diário.

A descrição minuciosa da aventura, as fotografias, todo o drama foram assim recuperados para a Humanidade.

9 comentários:

Teresa disse...

Sempre tive um enorme fascínio por esta era das grandes explorações começada no século XX.

Confesso que me vieram lágrimas aos olhos ao ver a última página escrita por Scott.

Há outra figura heróica na história da chegada à Antárctida: Shackleton

http://en.wikipedia.org/wiki/Ernest_Shackleton

Lembro-me de ter visto em tempos, era miúda, uns 12 anos (os bons tempos em que a nossa televisão passava boas séries britânicas) uma série sobre a descoberta da nascente do Nilo, e da rivalidade entre Burton e Speke.

Agora confesso que não tenho tempo para investigar, nem sei o nome original da série, mas fica a referência para o homem, a partir daqui será fácil pesquisar mais.
E Burton era uma figura complexa e um grande escritor. Pena que a mulher, depois da sua morte, tenha queimado todos os escritos.

http://en.wikipedia.org/wiki/John_Hanning_Speke

Teresa disse...

P.S. Já agora, para Richard Burton:

http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Francis_Burton

Cristina Torrão disse...

Sim, Teresa, "o tempo em que a nossa televisão passava boas séries britânicas", é bem verdade :)

Obrigada pelas informações.

Por acaso, vi, nos últimos tempos, um documentário alemão sobre a descoberta da nascente do Nilo.

P.S. Também me vieram lágrimas aos olhos, ao escrever o post. E, quando vi o texto sobre esta expedição, no blogue indicado, lembrei-me logo da série, que tanto me impressionou, a boa série britânica :)

antonio ganhão disse...

Um relato pungente. Até onde devemos perseguir os nossos sonhos?

Cristina Torrão disse...

Pergunta pertinente, António.

António Guerreiro disse...

Olá a todos!

A série inglesa que deram há uns anos na TV sobre a conquista do Polo Sul chamava-se, se não estou em erro "The Last Place on Earth".

Podem ver uns excertos da série no youtube em:

http://www.youtube.com/watch?v=cGApiLAIbwc

António Guerreiro disse...

Relativamente a essa famosa série, aqui têm um videoclip de entrada.

Lembram-se da música?

Muito boa ! :o)

http://www.youtube.com/watch?v=GPRZdbnsEIc&feature=related

Cumprimentos,
A. Guerreiro

Cristina Torrão disse...

Incrível, António, é mesmo essa série!!! Vi o ano de produção, 1985, encaixa perfeitamente. Foi há tanto tempo, já só me lembrava de certos pormenores.

Vi-a sozinha, ninguém mais lá em casa se interessou (ainda vivia com os meus pais, claro), mas fiquei presa, via-a até ao fim. Às vezes perguntavam-me: que é isso que estás a ver? Quando eu explicava, afastavam-se, desinteressados. Felizmente, não calhou mais ninguém querer ver um programa ao mesmo tempo, senão eu teria tido problemas. Só havia um aparelho de TV lá em casa e ainda não tínhamos vídeo-gravador.

Outros tempos ;)

Muito obrigada, António.
Um abraço.

Teresa disse...

Vim reler os comentários e apercebi-me de uma gralha no meu comentário inicial que o transforma num disparate.

«Sempre tive um enorme fascínio por esta era das grandes explorações começada no século XX.»

Eu queria escrever, obviamente, século XIX. Não reli e deu nisto.