Decidir
a própria morte era um dos pecados mais terríveis, retirava o direito a funeral
e a uma campa na terra sagrada do cemitério. Mas a ideia de solução extrema, quando
o desespero se tornava insuportável, aliviava-a e ela acabou por adormecer.
Sonhou
que se atirava ao Arda, via-se a deixar este mundo, entrando noutro, que a
deixava imune ao sofrimento…
Acordou,
de repente, sem saber se tinha dormido horas, ou apenas passado pelo sono. E o
desassossego regressou com tal intensidade, que não conseguiu permanecer
deitada. Como se uma força misteriosa a dominasse, fazendo-a perder a
influência sobre os seus movimentos, saiu de casa, envolta apenas na sua camisa
de dormir, descalça e de cabelo pelas costas. Pôs-se a caminho do rio, descendo
a encosta íngreme, por entre os castanheiros e os carvalhos.
Estava
um dia lindo de Primavera, os fenos despontavam num verde ainda tenro. Mas
ela caminhava sem se dar conta do brilho do sol e do chilrear dos pássaros.
Movia-se alheia a tudo, como se vivesse num outro mundo, em direcção a um dos
raros bancos de areia, no curso do Arda, onde ela e as irmãs costumavam ir
lavar roupa.
Lá
chegada, dirigiu-se à água, sem se dar ao trabalho de levantar a camisa, que
lhe chegava aos pés.