Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

31 de dezembro de 2011

A todos, um Bom 2012!

Muito aconchegadinho!


Porque, se não tivermos mais nada, temo-nos uns aos outros!

Costumes Curiosos (2)

Vamos então ao fenómeno Dinner for One!


Dinner for One, também conhecido por The 90th Birthday, é um sketch de comédia britânico, com cerca de 15 minutos de duração, escrito para o teatro nos idos anos 1920. Em 1963, a NDR, estação televisiva alemã, gravou uma representação que se tornou na peça televisiva mais repetida de todos os tempos (registada como tal no Guinness Book of Records, 1988-1995; as edições posteriores não contemplam esta categoria).

E agora eu digo-vos como foi atingido este recorde: os alemães deliram tanto com esta peça (um fenómeno difícil de explicar, pois aqui não se aprecia muito aquilo que vem das ilhas Britânicas), que ela é repetida, desde 1963, todos os anos, na véspera de Ano Novo! E isto não só num canal televisivo, mas em vários! Milhões de alemães vêem o sketch ano após ano e desfazem-se em riso, mesmo aqueles que não percebem patavina de inglês. E isto constitui o próximo fenómeno, pois a transmissão alemã não tem legendas, nem é dobrada!

Trata-se de uma senhora que, no seu aniversário, convida sempre quatro amigos muito especiais. No dia do seu 90º aniversário, porém, já nenhum deles está vivo. A senhora recusa-se a aceitar esse facto e o seu mordomo, também ele já velho, põe a mesa como habitualmente e serve o jantar, constituído por quatro pratos. O homem vê-se obrigado a representar o papel dos quatro convidados e a brindar, por cada um deles, entre o servir de cada prato. Apanha uma grande bebedeira e o cómico do sketch está precisamente no facto de ele servir à mesa, cada vez mais borracho.

A peça tem piada, mas não sei porque é que os alemães a vêem, todos os 31 de Dezembro, há quase 50 anos!

Para quem estiver interessado, pode ver o sketch aqui. Embora acuse o pó dos anos, é divertido. Escolhi uma versão com legendas francesas, porque a alemã (sem legendas) tem um apresentador que, no início, fala cerca de três minutos.

29 de dezembro de 2011

Costumes curiosos (1)

Os alemães são vistos com muita desconfiança por terem provocado duas guerras mundiais no mesmo século, muita gente se pergunta que tipo de povo é este. Depois de quase 20 anos na Alemanha, não vejo grandes diferenças, no geral. Há gente de que gosto, há gente que me irrita, há simpatias, há hipocrisias, etc. Mas é claro que há muitas diferenças, em relação a Portugal. Este post da Rita fez-me lembrar uma característica alemã curiosa: o costume de ver, repetidos até à exaustão, certos filmes e/ou programas de televisão e surpreender-se, ou rir-se, de todas as vezes como da primeira! Isto é tanto mais estranho, porquanto se trata de películas sem qualidade, algumas delas mesmo imbecis.

Começo pelos filmes da dupla Bud Spencer/Terence Hill. Não sei se se lembram do cow-boy Trinitá, ou dos Dois Missionários. Pois! Estes eram os únicos filmes que eu conhecia da dupla italiana (que já me aborreciam quando eu tinha 12 ou 13 anos). Mas isso era antes de vir para a Alemanha. Há muitas mais destas "obras de arte", cada uma mais imbecil do que a outra. São constantemente repetidas por alguns canais alemães, a ponto de representar excepção passar mais de meio ano sem isso acontecer!
Ao fim de 20 anos, uma pessoa acaba por tomar mais ou menos contacto com os filmes e houve um que me chamou a atenção. O título original é Non c’è due senza quattro, rodado no Rio de Janeiro, nos anos 80, e conta com a participação de actores de telenovelas que eu conhecia, dessa altura.


Resta dizer que Bud Spencer publicou, há meses, uma auto-biografia e conquistou os tops de vendas de livros cá do burgo!

Outro costume deste género tem por objecto os filmes de Louis de Funès, esse francês colérico, que dá pulinhos como um coelho a pilhas e se desfaz em esgares imbecis. Na verdade, ele teve algumas actuações de mérito e é muito considerado em França, mas a maior parte das películas são mesmo para atrasados mentais, especialmente, as do Gendarme de St. Tropez.


Os alemães adoram os filmes de Louis de Funès e - socorro gente - há dezenas deles! Cada um já mostrado pela milionésima vez, claro!

Um outro exemplo é uma trilogia, aqui considerada como um "clássico do cinema" (mas só mesmo aqui). Data dos fins dos anos 50/princípios de 60 e trata-se de um western de produção europeia, rodado em terras jugoslavas (já isto chega para nos pôr o estômago às voltas). A personagem principal é um índio, chamado Winnetou, que trava amizades fraternas com "brancos", que têm nomes sugestivos como Old Surehand, ou Old Shatterhand. Esta trilogia põe esta nação de trabalhadores disciplinados e, normalmente, nada dados a pieguices, a chorar baba e ranho! E, sim, no passado 24 de Dezembro, houve um canal que transmitiu a trilogia completa, de enfiada!


Os filmes são baseados na obra de Karl May, um autor alemão do século XIX, que escreveu inúmeros livros de aventuras.
Nos meus primeiros tempos neste país, numa reunião de família (sogros, cunhados, sobrinhos), começaram todos a falar de Winnetou. Ele era Winnetou para aqui, Winnetou para acolá... Decidi-me a perguntar: "Mas, quem é Winnetou?" Todos me olharam como se eu viesse de outro planeta!

Enfim, um outro caso digno de estudo tem a ver com um antigo sktech britânico, intitulado Dinner For One, este sim, com a sua piada. Mas merece um post exclusivo, até porque se aproxima a data em que ele será mostrado pela, sei lá, trilionésima vez!

28 de dezembro de 2011

Passatempo Fado/Cruz de Esmeraldas

Como prometido, aqui ficam extractos de textos que, apesar de não terem vencido o passatempo, são dignos de menção.

A Ana Sofia Allen cita Fernando Pessoa: "O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou". Identificando o fado como "dor transformada em música", Ana Sofia Allen explica porque o fado é entendido noutros cantos do mundo:

Com o coração [os estrangeiros] sentem o que as palavras não entendem - um profundo pesar e um encantamento próprio que só o fado pode dar.
(...)
E tal como um insecto pode ser preservado em âmbar durante milhares de anos, o fado continuará a preservar e a alimentar a essência humana, com o mesmo brilho e profundidade da resina.
(...)
A partir de agora, o fado (...) é um tesouro do mundo. Um tesouro que fala de Portugal, da sua cultura, da sua língua, dos seus poetas, mas também de algo comum a todo o ser humano - os sentimentos.

O Pedro enviou um dos seus poemas, que, na sua simplicidade e economia de palavras, tanto dizem:

o fado moderno
o fado antigo
o fado da tasca
é tudo fado

de verdade, o fado
é fugidio
é o fado do eu
o fado da dor

A Cristina Tordo intitula o seu texto Fado de um rio e faz um interessante paralelismo entre o fado, que nasce "alheio às limitações de uma cultura", e o Tejo, que não sabe "o que é ser-se prisioneiro de uma fronteira, limitações dos homens":

Na melodia de uma guitarra este lamento é poema, num canto que de tanta boémia, soa a santidade.
(...)
Por viver na alma do povo, o fado herdou a liberdade em ser do mundo, como um copo de taberna que transborda sobre a mesa. Mas tal como o Tejo, o fado será sempre nosso!

Os meus agradecimentos a todos os que participaram. Surgirão novas oportunidades (com outros temas), pois tenciono repetir esta experiência gratificante.

26 de dezembro de 2011

Passatempo Fado/Cruz de Esmeraldas

"A algunos de mis amigos de España (aunque también de otros países) no les gusta el fado. A mi sí."

Bartolomé Bauzá


Devido à qualidade e beleza de alguns textos, a escolha foi difícil. Decidi-me pelo de Bartolomé Bauzá, apesar de, em parte, ser escrito em castelhano. Ou talvez por causa disso! Habituada a considerar o fado algo de que só os portugueses falam (em 19 anos de Alemanha, só uma única pessoa me falou no fado, sem eu o ter referido antes), confesso que me surpreendeu esse jeito de escrever sobre o fado em castelhano. Sobretudo em castelhano! E, no meio da hesitação, teria de haver algo que ditasse a decisão final.

Num próximo post publicarei extractos de outros textos de que gostei particularmente. Para já, deixo-vos com o vencedor:


A algunos de mis amigos de España (aunque también de otros países) no les gusta el fado. A mi sí. Oí que el fado tenía sus orígenes en las cubiertas de proa de los barcos que hacían la ruta de ultramar.

Eu sou marinheiro, como o meu pai e os meus dois avôs;  talvez para compreender o fado é preciso entender primeiramente o mar.

La mar, como decimos en España. En femenino, como un nombre de mujer.

Maria Lisboa. María del Mar.

Un amigo mío -otro, a éste le gusta el fado- me citaba a Rilke: hace falta una vida para escribir un verso.

Faz falta uma vida para cantar um fado...
Faz falta uma vida para ouvir um fado...

Faz falta uma vida para compreender o fado.

Quizá es porque no han vivido. No lo suficiente. No con intensidad. No en la mar.

Não com saudades.

No con miedo.  Separados de quién se quiere.

María del Mar. Maria Lisboa.

Isso são saudades…

Para trabajar en la cubierta de proa de un barco hace falta ser un hombre duro. Miro hacia atrás, a la costa que se aleja. Todavía hay alguna gaviota con nosotros.

Nao gosto do meu companheiro. Ele tem um walkman. Rock and Roll.
Eu tenho, as gaivotas, ainda.
Eu tenho o fado. Cá, na minha cabeça.
Lá, na costa. Nos seus lábios cantores.

Definitivamente, no me gusta ese tipo.

María del Mar. Maria Lisboa.

24 de dezembro de 2011

Um Conto para o Natal

Lido algures

Era uma vez um mosteiro que tinha dificuldades em recrutar novos monges. As zangas eram constantes, na procura da culpa para a situação. O abade resolveu aconselhar-se com um eremita, que, depois de ouvir as suas queixas, apenas declarou: «O Messias está entre vós»!
O abade regressou confuso ao mosteiro e limitou-se a anunciar: «O Messias está entre nós»! Os monges estupefactos desataram a perguntar uns aos outros: «Quem poderá ser? É o irmão José o Messias? Ou o irmão João? Ou o próprio abade? Ou sou eu próprio?»
A partir daquele dia, nada mais foi como dantes. Os monges encaravam-se com respeito, as zangas terminaram, assim como os receios quanto ao futuro do mosteiro. Trabalhavam com afinco, celebravam os Ofícios Divinos com maior convicção e davam mais atenção às palavras da Bíblia. A comunidade exalava a luz de quem, finalmente, encontrou o seu caminho e possuía a esperança de alcançar o seu objectivo.
Os visitantes do mosteiro ficavam impressionados com o espírito que lá se vivia e falavam sobre isso nas suas cidades. Cada vez havia mais gente com vontade de conhecer aquele sítio. Muitos desejavam fazer parte daquela comunidade e tornavam-se monges.

Os resultados podem ser surpreendentes, se respeitarmos as pessoas à nossa volta e se demonstrarmos confiança nas suas capacidades!

A todos os que por aqui passam, desejo um Feliz Natal!


22 de dezembro de 2011

Passatempo (VIII)

Adenda de 24.12.2011:
Com o Passatempo fechado, resta-me agradecer a todos os participantes. A escolha vai ser difícil, há vários textos bons. Publicarei o resultado no início da próxima semana!


Às 23:59 de amanhã, 23 de Dezembro, acaba o prazo para o envio dos textos do passatempo. Eu já tenho um favorito. Ou será que ainda aparece algum melhor?

Informe-se aqui sobre o tema ;-)

21 de dezembro de 2011

Vida inventada

Da autoria de J. Rentes de Carvalho:

É humana, muitas vezes até simpática, a curiosidade pela vida alheia, mas mesmo que se trate de uma que não seja corrente nas peripécias e de desenlaces imprevisíveis, ninguém quer a versão original. Há por parte de quem pergunta o anseio quase infantil de ouvir histórias, casos incomuns, e por seu turno o narrador alegremente cumpre, evitando os escolhos, sobrepondo a versão cosmética à da realidade.
Bem é que assim seja e muito desagrado se poupa, pois do mesmo modo que evitamos  desnudar-nos em público, acalentamos, uns e outros, a ilusão de que somos interessantes ou até excepcionais.
Metendo a mão no peito, sabemos que de facto nenhuma vida se conta, nem talvez se possa  contar, já que a verdadeira até de nós próprios a escondemos.
Graças a Deus, que tudo arranja, faz Ele com que isso não nos torne infelizes, deixando-nos viver a vida que inventamos, mais  fácil de suportar.

19 de dezembro de 2011

Peto

Hoje, ao divagar pela lista dos blogues que sigo, deparei com o Peto. E o Peto sobressaiu de todos os outros posts. A figura do Peto, a sinopse do livro e a opinião, escritas com tanta sensibilidade e carinho pela Maria Manuel, do Marcador de Livros, tocaram-me tanto, que aqui vai:


Sinopse:
O Peto apareceu na rua, ainda bebé, e lá viveu durante doze longos anos, comendo dos caixotes do lixo. A certa altura, duas senhoras repararam nele e foram-no protegendo como podiam, dando-lhe comida e água. E ele por ali foi ficando. Foi recolhido duas vezes por pessoas que o voltaram a abandonar porque, afinal, era grande demais ou deixava a casa cheia de pelos. Na sua vida na rua, foi agredido diversas vezes e durante muito tempo teve dificuldade em usar as patas traseiras. Foi também atropelado mais do que uma vez. Chegou a ser esfaqueado na barriga. Tinha Leishmaniose, e por dormir tantos anos ao relento sofria ainda de artrite, passando a ter de tomar medicação quatro vezes ao dia. Foi atacado diversas ocasiões por cães com «donos perigosos» e o seu corpo ficou marcado por várias cicatrizes. Enfrentou duas denúncias de vizinhos, que não o queriam ali. Numa das vezes acabou num canil para ser abatido, como tantos outros cães vadios. Mas foram buscá-lo e ele voltou à sua rua. A sua sorte mudou quando, um dia, Paula, reparou no cão meigo e triste que se arrastava cheio de sangue, terra e pó. Começou por lhe limpar as feridas. Acabou por saber a sua história e seis meses depois, em Novembro de 2005, levou-o para casa e encheu-o de amor. Peto escapou da morte nesse inverno.

A minha opinião:
Esta é a história de um cão de rua sortudo que apanhou pela frente Paula Cairo uma defensora dos animais como há poucas. Foi levado para casa da autora do livro com doze anos e que, apesar de nunca ter tido cães e ter já alguns gatos em casa, não hesitou e acolheu o cão de olhos doces e que precisava de carinho e de cuidados. E até se ter transformado numa grande amizade foi um passo. A partir daí nunca mais se largaram. Peto foi o seu companheiro até à morte deste, aos 18 anos. Por tê-lo adoptado foi olhada por diversas vezes de lado e criticada, teve de mudar de casa porque os seus vizinhos não aceitaram bem aquela adopção, mas mesmo assim Paula não esmoreceu e levou a sua ideia avante: não iria largar Peto. E foram muito felizes juntos, vivendo várias aventuras com outros animais que foram vivendo também nas suas casas.
Também eu adoro animais e não consigo ver ninguém a maltratá-los, mas admiro a coragem da autora e adoptá-los e dar o seu amor pelos seus amigos de quatro patas. Também eu tenho uma gatinha e esta também faz parte da família. É tratada como tal por toda a gente e é assim que deve ser. Infelizmente nem todos pensam assim e a lei não pune os infractores...

Pois, a lei não pune os infractores...

Por aqui, já se vai fazendo alguma coisa. Por estes dias, em Hamburgo, um homem  atirou com um cão Jack Russell Terrier (a raça da minha Lucy) contra a parede, por ele ter roubado um pão que estava em cima de uma mesa. O homem estragou-lhe a anca de tal maneira, que o cãozinho, de apenas um ano, vai ter problemas durante toda a sua vida.
O homem foi condenado, por um tribunal, a pagar cerca de 2.600 euros. Acho pouco!!!

18 de dezembro de 2011

"Deves amar o próximo como a ti mesmo"

Assim nos ensina a Bíblia. Mas sejamos sinceros: quem consegue dizer que se ama? Não nos achamos cheios de defeitos? Não nos tratamos mal, chamando-nos de parvos e estúpidos? Não nos achamos, inúmeras vezes, inferiores aos outros e não desejamos ter a vida deles, que julgamos mais felizes do que nós?

Condenamos o egoísmo. E há um egoísmo prejudicial, sim, mas ao mesmo tempo, existe um egoísmo saudável e, eu diria mesmo, vital. Não encontraremos paz interior, enquanto não nos ocuparmos de nós próprios. Só assim reuniremos condições de amar e ajudar o próximo. Caso contrário, somos vítimas fáceis do egoísmo prejudicial e doentio. E aí não adianta que nos preguem a humildade, a obediência, o sacrifício e a paciência. Se não temos nada para dar a nós próprios, também não encontramos nada para os outros.

Dito por outras palavras: antes de irmos ajudar os outros a arrumar a casa deles, será melhor arrumarmos a nossa. Que energia temos para as casas dos outros, se sabemos que, na nossa, reina o caos? Podemos abrigar-nos no artifício de nos distrairmos: enquanto arrumamos o lar alheio, esquecemos a desordem e a sujidade do nosso. Mas tanto maior será a desolação e a tristeza, quando lá regressarmos.

Não devemos ter medo, nem vergonha, de admitir que velamos, acima de tudo, pelo nosso próprio interesse. Não no sentido de nos julgarmos superior aos outros e de querermos ostentar riqueza, enquanto eles se afogam na miséria, mas no sentido de arranjarmos a energia e a paz que nos permitam encarar, seja quem for, em pé de igualdade; a energia e a paz que nos permitem subir ao degrau mais alto, mas, também, descer, sem preconceitos, a um mais baixo, em caso de necessidade.

Devemos tratar de nós próprios como, em criança, desejávamos que os nossos pais nos tratassem.

16 de dezembro de 2011

Tertúlia na Bertrand de Braga



É já amanhã, às 17 horas! Com a moderação do Manuel Cardoso do blogue Dos Meus Livros e colaborador do Destante.

Admiro quem faz crítica de livros na blogosfera. Porque o faz apenas pelo amor aos livros.


15 de dezembro de 2011

Centenário

O post A Conquista do Pólo Sul atingiu a lista dos cinco mais lidos na barra lateral. Presumo que tenha acontecido à custa das buscas do Google, pois fez ontem exactamente 100 anos que o norueguês Amundsen se tornou no primeiro ser humano a atingir esse pedaço de Terra (ou de gelo). Mas a sua conquista foi ensombrada pela tragédia do inglês Robert Scott. Vi, na terça-feira, um documentário actual (data de 2011), na ZDF, sobre o tema. E tornei a verter lágrimas. É uma tragédia humana e animal incrível. Mas o programa era muito objectivo e dei-me conta dos erros sucessivos de Scott.


Enfim, não deixa de ser o meu herói. Porque tenho um fraco pelos britânicos. E porque, como se disse no documentário, ter escrito um tão belo diário. O de Admunsen nem se compara!

Passatempo (VIII)



Neste meu pequeno romance, à volta da Conquista de Lisboa, há um cruzado alemão, a quem os cânticos mouros deixam perturbado, ainda mais, quando ele trava conhecimento com Aischa, dona de uma linda voz.

Neste meu post, afirmei a minha convicção da existência de uma parentela entre os cânticos mouros e o fado. E, aproveitando o facto de este género musical ter sido classificado como Património Imaterial da Humanidade, desafio-vos a escreverem um pequeno texto sobre o fado, que não deve exceder as 300 palavras (cerca de meia página A4 em Times New Roman 12). Quer acreditem nas origens mouras, ou não; quer gostem de fado, ou não. Enviem-me um parágrafo sobre este tema para andancas@t-online.de, até às 23:59 de 23 de Dezembro. O/A vencedor/a receberá um exemplar autografado e com dedicatória de A Cruz de Esmeraldas.

Nota: Está a decorrer um outro tipo de passatempo com o mesmo livro no Viajar pela Leitura.

12 de dezembro de 2011

Passatempos (VII)



Afonso Henriques, o Homem, no Destante


A Cruz de Esmeraldas, no Viajar pela Leitura

Os exemplares serão enviados aos vencedores com dedicatória e autografados.

A partir de quinta-feira, passatempo também aqui, no Andanças!

10 de dezembro de 2011

Consumo exagerado de carne

Eu não apelo à alimentação exclusivamente vegetariana e abomino os substitutos da carne baseados em soja. Mas pergunto: temos mesmo de comer tanta carne? Porque não comer bifes de 180 g, em vez de 250, 300, ou 400g? Basta aumentar o acompanhamento: ao lado do arroz e/ou das batatas fritas, uma boa fritangada de cebola, pimentos e cogumelos, por exemplo. Porque não diminuir a quantidade de carne num guisado? 150 a 200g por cabeça chegam perfeitamente, é só cortar a carne em pedaços mais pequenos e aumentar a quantidade dos outros ingredientes (pimentos, batatas, cenouras, grão-de-bico, etc.).

As informações que se seguem, assim como a imagem, foram retiradas de um jornal católico alemão:


As contas são fáceis de fazer: cada vez mais pessoas comem mais carne. O seu consumo triplicou a nível mundial, desde 1971, na Ásia quadruplicou mesmo, no espaço de trinta anos. Como nos dizem estudos publicados pela Misereor alemã, as rações exigidas para a criação de animais serão, o mais tardar, em 2050, impossíveis de produzir. "A fim de satisfazermos o nosso apetite por carne, precisaríamos de uma segunda Terra", diz Kerstin Lange, da Misereor.

Actualmente, já se utiliza um terço da superfície agrícola para a produção de rações animais, sem contarmos com as pastagens do gado bovino. 18% das emissões de gases nocivos, nomeadamente, o gás metano, vem da criação massiva de animais. Aviários e viveiros gigantescos produzem quantidades enormes de amoníaco, nitratos, metais e antibióticos que infectam os solos e as águas. E não nos esqueçamos de que a produção de carne exige água sem fim, segundo a FAO, para um quilo de carne de vaca são necessários 15.300 litros.

"Continuar desta maneira deixou de ser uma opção", diz-nos Sarah Wiener (cozinheira austríaca), que se empenha numa criação animal sustentável. Organizações ambientais e a Misereor exigem uma reforma da política agrária da União Europeia, a partir do corte das subvenções para a manutenção de aviários convencionais e outros métodos do género. Através da exportação de carne europeia a preços baixos põe-se, igualmente, em causa a existência de pequenos proprietários africanos, tão necessários ao desenvolvimento e ao combate da fome nos seus países.

"A alimentação não é uma questão do foro privado, a alimentação é uma questão política", diz Sarah Wiener.

90% dos animais destinados à nossa alimentação não sabem o que é viver ao ar livre, vivem apertados, sem hipóteses de se mexerem condignamente, em estábulos iluminados por luz artificial. São cortadas as caudas aos leitões, sem qualquer tipo de anestesia, pois os porcos tendem a comer as caudas dos seus semelhantes, quando se vêem em grande stress por falta de espaço. Só na Alemanha, são anualmente gazeados cerca de 50 milhões de pintainhos, apenas porque nascem com o sexo errado (os machos são os prejudicados porque não servem para a produção de ovos).

Estas práticas da indústria alimentar, não só contradizem o princípio cristão do respeito pela Vida e pela Criação, como contribuem para a fome no chamado Terceiro Mundo.

Sugestão de um colaborador do citado jornal: os cristãos deviam regressar ao hábito de não comerem carne às sextas-feiras. De um ponto de vista global, seria quase irrisório, mas, ainda assim, um começo. Principalmente, os homens deviam repensar a sua alimentação, pois estudos provam que eles comem o dobro da carne das mulheres.

Nota: infelizmente, não encontrei uma palavra sobre o tema na Misereor em língua portuguesa.

8 de dezembro de 2011

Uma boa ideia de passatempo


Aquele que com a Santa casou
Em soberba festa
A que dos pães fez rosas
Espinhosa transformação

Foi aquele que poemas legou
Que as dores do coração pôs em verso
O maior dos trovadores
 Que cantou o amor e o escárnio

Foi aquele a quem chamaram lavrador
Não foi por pegar na enxada
Ou se calhar até pegou sabemos lá nós
E ao pinhal de Leiria ficou para sempre ligado

Afinal tantos factos, tantas datas…que sabemos nós
Dos homens que nos governaram outrora?



Foi com este interessante poema (aqui, extractos) que a Sara Fernanda Barros Paredes ganhou o passatempo em Dos Meus Livros. Parabéns! Irá receber um exemplar do D. Dinis autografado.

Esta ideia do Manuel Cardoso agradou-me e, brevemente, iniciarei um passatempo neste estilo: os concorrentes terão de escrever um texto sobre um tema proposto.

6 de dezembro de 2011

Audiolivros

Na Alemanha, além dos e-books, existe, há vários anos, uma outra forma de publicação alternativa aos livros de papel, que representa um grande mercado: os audiolivros. Dir-me-ão que nada substitui a leitura, mas, na verdade, há situações em que um audiolivro pode ser útil. O meu marido utiliza-os nas suas viagens diárias de comboio (cerca de 50 minutos) para o seu local de trabalho. Ele tem dificuldade em concentrar-se na leitura, quando há ruído de fundo (como num comboio, ou num café), de maneira que é fã dos audiolivros.

Nem todos os audiolivros se limitam à audição pura e simples do texto, alguns são verdadeiros "teatros radiofónicos", com várias personagens e ruídos apropriados (por exemplo, num romance histórico medieval, o som dos cavalos ou das batalhas).

Acho pena que em Portugal este modo de publicação seja raro. Foi, por isso, com satisfação que li sobre o lançamento do audiolivro de O Senhor Henri, o primeiro dos habitantes do “Bairro” de Gonçalo M. Tavares a entrar no catálogo da editora Boca, numa co-produção com o Teatro Municipal da Guarda, e inaugurando a colecção Boca de Cena, dedicada ao teatro.


O lançamento realiza-se no Teatro Municipal da Guarda, no dia 10 de Dezembro às 21h30, num espectáculo que se escuta, e ao qual se seguirá uma conversa com os editores, e repete no Bartô, dia 14 de Dezembro às 22h, com o mesmo figurino e com a presença de Gonçalo M. Tavares, José Neves, Luís Henriques e Américo Rodrigues, entre outros intervenientes.

Na minha opinião, uma belíssima ideia e um exemplo a seguir!

Via Bibliotecar

3 de dezembro de 2011

D. Mafalda de Sabóia (retrato de uma mulher medieval)

A única representação de D. Mafalda que encontrei

D. Mafalda de Sabóia (ou Matilde, ou ainda Mahaut, em fancês), a primeira rainha de Portugal, faleceu com cerca de trinta anos, a 3 de Dezembro de 1157, na sequência do parto da infanta D. Sancha.

Não se sabe bem quando nasceu, presume-se que teria de 18 a 20 anos, quando casou com D. Afonso Henriques, em 1146. Era filha do conde Amadeu III de Sabóia e de Mafalda (ou Matilde) de Albon. A família era muito devota, o pai participou em várias cruzadas e fundou muitos mosteiros, vários dos seus irmãos seguiram a vida religiosa. Mas Mafalda viu-se obrigada a partir para Portugal, uma terra de que ela talvez nunca teria ouvido falar, a fim de casar com o seu rei (sobre os motivos que levaram à escolha de D. Mafalda já aqui falei).

Este era, aliás, um destino comum para jovens da nobreza daquela época. Oficialmente, elas deviam dar o seu consentimento para a união matrimonial, a Igreja sempre fez questão de referir esse aspecto. Mas sejamos francos: quem era a jovem que se atrevia a discordar de seu pai, recusando casar com quem ele escolhera? Depois de terem passado toda a sua infância e parte da juventude a não se atreverem a contradizer os mais velhos e a nunca poderem expressar as suas preferências, não tinham meios para recusar qualquer proposta que fosse.




Esta imagem não tem nada a ver com D. Mafalda, mas gosto de a imaginar assim

D. Mafalda esteve doze anos casada com D. Afonso Henriques, deu sete filhos à luz e acabou por morrer dias depois do último parto. Dito assim, é uma história de vida bastante trágica. Teria sido feliz?

No meu romance, eu optei pelo "sim", depois de dificuldades iniciais. Uma das razões foi o facto de o número de filhos se adequar (por assim dizer) aos anos em que estiveram casados; a outra foi porque não se conhecem filhos ilegítimos do rei durante esses doze anos. A versão oficial é que D. Afonso Henriques teve dois filhos em solteiro e duas filhas depois de enviuvar.

O sucessor de D. Afonso Henriques, D. Sancho I, tinha apenas três anos, quando a mãe morreu, não se devia lembrar dela. Para não falar dos dois que nasceram depois dele. Dos sete filhos, aliás, só três chegaram à idade adulta: além do príncipe herdeiro, as duas filhas mais velhas, Urraca e Teresa.

Acabou por ser um destino bem medieval, este, da nossa primeira rainha. Infelizmente, as mulheres eram apenas meios para certos fins, não uma individualidade em si. Mesmo assim, houve quem se destacasse, como D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, que se intitulava "rainha",  o que leva muitos a considerá-la a primeira rainha de Portugal. E é verdade que, depois da morte de seu pai, o imperador da Hispânia, D. Teresa não mais prestou vassalagem ao rei de Leão.

O romance que estou, neste momento, a escrever é dedicado às mulheres medievais anónimas. Já era tempo!

2 de dezembro de 2011

Cancioneiro Medieval Português

Um site valioso: Cantigas Medievais Galego-Portuguesas, onde estão disponibilizados os Cancioneiros da Biblioteca Nacional, da Ajuda e da Vaticana, ou seja, uma edição crítica das cerca de 1680 catingas trovadorescas que chegaram até nós.


O site disponibiliza, ainda, as imagens dos manuscritos e a música, assim como informação sucinta sobre todos os autores, personagens e lugares referidos nas cantigas. Também a “Arte de Trovar”, o pequeno tratado de poética trovadoresca que abre o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, se encontra lá.

O texto editado das cantigas dá ainda acesso a um conjunto de informações destinadas a facilitar quer a sua leitura, quer o seu enquadramento histórico (glossário, notas explicativas de versos, toponímia, antroponímia, notas gerais).

É nestas alturas que eu amo a internet!

Via Montalvo e as Ciências do Nosso Tempo

30 de novembro de 2011

Da nossa relação com os animais III

Os animais podem-nos ajudar a sermos melhores pessoas e mais felizes.

O jornal do bispado de Hildesheim publicou uma reportagem sobre uma instituição de Hamburgo que ajuda mulheres com problemas psicológicos, causados por drogas, violência, ou outro tipo de abusos. Essas mulheres sofrem de depressões, disfunções alimentares e neuroses fóbicas. Uma das terapias usadas no seu tratamento inclui cavalos (póneis).

A psicóloga Lisa Kieselhorst, que trabalha há 20 anos neste tipo de terapia, explica-nos: "Os cavalos encaram as pessoas livres de preconceitos. Ao mesmo tempo, espelham o comportamento do próprio ser humano. Para mim é, por isso, muito importante, observar como o cavalo reage a determinada pessoa. Pode, por exemplo, acontecer que alguém introvertido comunique mais vontade própria e poder ao cavalo, do que alguém que aparente ser forte e dominador". Para este tipo de terapia, "o animal precisa de ter tido uma boa educação, deixando-se montar sem problemas, manter a sua essência pura e ter uma personalidade forte, mas ser, ao mesmo tempo, paciente."

Não é objectivo das psicólogas "ensinar a montar. As mulheres incluídas nesta terapia devem, sim, aprender a conhecer-se a si próprias, através do cavalo". Por isso, elas podem sentar-se em cima do animal, apenas para o abraçar. "Isto é particularmente importante para mulheres que tenham dificuldades em confiar nos outros e em aceitar o contacto corporal."



Uma das pacientes diz: "O contacto com os cavalos ensinou-me a ser mais despreocupada. Noto, de todas as vezes, como tiro benefícios do facto de ousar algo. Prescindimos de muito, quando andamos pela vida com o travão de mão permanentemente accionado." (Em Português, talvez disséssemos "permanentemente de pé atrás").

Nota: a ideia de usar animais em psicoterapia vem dos anos 60. O psicólogo infantil Boris M. Levinson constatou que conseguia "alcançar" melhor um dos seus pacientes, uma criança desprezada e introvertida, quando esta levava o seu cão para as consultas.

Nota 2: a instituição alemã St. Raphael, da Caritas, de apoio a crianças deficientes, inclui, no seu programa, lições de equitação, a fim de ajudar as crianças a vencerem os seus medos, aumentar a sua auto-estima e a tornarem-se mais autónomas.


27 de novembro de 2011

Fado

A propósito da classificação do Fado como Património Imaterial da Humanidade, lembrei-me de um texto que escrevi para o Delito de Opinião, respondendo ao amável convite do Pedro Correia, e que tornei a publicar aqui no Andanças. O seu título era Herança Islâmica e eu citava o lindíssimo livro de Adalberto Alves, Em busca da Lisboa Árabe (Edições CTT, 2007).





Adalberto Alves fala-nos no drama vivido pelos últimos mouros em terras portuguesas, depois de D. Manuel I decretar, em 1496, a expulsão do reino de todos os que não se convertessem à fé católica. Muitos conseguiram simular uma integração, mas ficaram sujeitos às mais variadas atribulações, no que constituiu um dos maiores dramas da História da Península do século XVI. Como nos diz o autor na obra referida: “transformados em marginais, rufiões e desclassificados, ébrios de fatalidade, frequentavam ainda Alfama e Mouraria vagueando como fantasmas gastos, sob a pálida memória dos seus antepassados”; “inventam um género musical e com ele cantam o seu fado”; “ao percorrermos certas alfurjas esquecidas de Lisboa antiga, parece sentirmos ainda como que os ecos longínquos desses fados esquecidos, onde o árabe se enroupava em português para exprimir o lamento dos humilhados do destino.”

No livro, é ainda reproduzida, na página 147, uma fotografia do autor na companhia de Amália Rodrigues, que, como Adalberto Alves nos diz, “estava intimamente convicta da parentela entre o fado e a música árabe, que muito apreciava”.

Eu sei que esta teoria é polémica, mas eu acredito nela. E seria bom que os portugueses, a propósito desta classificação, se lembrassem dos mouros; se lembrassem de que a herança islâmica é muito forte no nosso país; referissem que essa herança terá tido mais importância para a formação do nosso carácter do que o que se costuma aceitar; referissem que, se não fossem os mouros, talvez não existisse o Fado.

26 de novembro de 2011

Da nossa relação com os animais II

O labrador retriever Barney é um cão muito especial, pois colabora com os professores numa escola de Hamburgo.

A ideia surgiu de uma das professoras que, desde miúda, sonhava ter um cão. Mas como dar a atenção devida a um animal, quando a família se ausenta de casa, durante a maior parte do dia, a fim de cumprir os seus compromissos profissionais e escolares? Quando ouviu falar de cães que colaboram com escolas, ela propôs isso mesmo ao seu Director, a fim de poder levar o animal para o local de trabalho. O Director concordou e diz-nos, agora: "O Barney conseguiu, em pouco tempo, conquistar-nos a todos, mesmo os colegas mais renitentes. Com a sua aura sossegada e equilibrada, consegue estabelecer uma atmosfera descontraída na sala de aula."



Um aluno do 8º ano varre a sala com gosto, para que todos se possam sentar no chão, ou ajoelhar-se, junto de Barney . Nos 3º e 4º anos, há aulas opcionais sobre animais domésticos, as crianças têm ocasião de examinarem as patas e os dentes do cão, perdendo, assim, o medo e tornando-se mais seguras de si, também no seu contacto com outros humanos.

Uma aluna de 13 anos diz-nos: "Quando contamos alguma coisa ao Barney, temos a sensação de que ele entende tudo". E o Director completa: "A presença do cão acalma as crianças, muitas delas vêm sentar-se ao pé dele, quando não se sentem bem, ou algo as preocupa."

Nota: Este projecto só foi possível graças à colaboração de um professor reformado, que vai todos os dias à escola, a fim de levar o cão a passear, enquanto a sua dona está a dar aulas. Também nem todos os cães se adaptam a este tipo de tarefa, a raça labrador retriever foi propositadamente escolhida para o efeito (também é um bom guia de cegos). Além disso, o cão tem de ter uma educação conforme, um animal que passe muito tempo sozinho e desprezado dificilmente estará à altura. Para ser feliz, um cão tem de se sentir integrado e levado a sério. Deve, ainda cachorro, ir para a escola, a fim de se habituar à agitação e ao barulho das crianças, quanto mais cedo, melhor. E, sentindo que aquela é a sua tarefa (todos os cães são mais felizes, quando têm uma tarefa a cumprir) cumpri-la-á até o fim.

Em Hamburgo, além de Barney, há mais quatro cães reconhecidos oficialmente como "cão da escola". Em toda a Alemanha, há 90 escolas, sobretudo as especializadas em crianças com dificuldades, que contam com a ajuda dos assistentes caninos.

24 de novembro de 2011

Passatempo (VI)



Um passatempo muito especial no Dos Meus Livros, do Manuel Cardoso. Para ganhar um exemplar do D. Dinis, autografado e com dedicatória, terá de escrever um parágrafo, sobre a figura histórica em questão, que não exceda os 800 caracteres (umas dez linhas em Times 12). O prémio será atribuído ao texto mais criativo.

Não deixar saudades

Pobre dele? Coitado? Infeliz? Deus se compadeça? Desconhecemos as razões, mas era mau, mesmo para os que lhe queriam, os do seu sangue.
Trombudo, azedo, arrogante, violento, cheio de si. A soco e pontapé, com o cinto, à varada, mais de cinquenta anos bateu na mulher, nos filhos, na mula, no cão, nas galinhas que se lhe atravessavam no caminho. Desdenhoso, olhando de esguelha, as boas-horas, se as dava, saíam-lhe dentre os lábios como a cuspir um insulto.
É terrível, este sentimento: alguém morre e não deixa saudade.

Surripiado ao Tempo Contado.

22 de novembro de 2011

"Fazei, pois, e observai tudo o que eles disserem...

"... mas não imiteis as suas obras, pois eles dizem e não fazem."
(Evangelho segundo São Mateus, 23,3)

Segundo São Mateus, já Cristo chamou a atenção para o facto de haver pessoas, neste caso, os fariseus, que fazem o contrário daquilo que dizem. Infelizmente, pais educadores e professores não fogem à regra. E como querem os pais filhos bem educados, se eles próprios não dão o exemplo?

Uma autora alemã, Gundula Gause, num livro em que dá conselhos de educação, diz o seguinte:

O melhor método de transmitirmos boas maneiras aos filhos é através do exemplo. Todos devíamos cultivar valores como o bom comportamento, a amabilidade, a pontualidade, a solidariedade e o respeito. Não devemos, aliás, repreender os filhos diante dos outros, mas fazê-lo mais tarde, com calma.

Num jornal católico alemão, são apresentados testemunhos de crianças sobre a contradição em que os pais, educadores e professores, muitas vezes, caem:

O meu pai diz-me sempre que não devo começar a fumar, mas ele fuma. E nem pensa em deixar.

Os pais dizem sempre que devemos usar capacete ao andar de bicicleta, mas, quando os meus pais andam de bicicleta, nunca usam capacete.

A minha mãe zanga-se sempre quando está a falar e nós a interrompemos. Mas ela está sempre a interromper-nos, quando falamos.

Os idosos dizem sempre que são os jovens que devem cumprimentar e não o contrário. Mas, quando nós cumprimentamos muitos dos idosos da nossa vizinhança, a maior parte não responde, alguns até olham para o lado.

A minha mãe diz-me que não devo ver tanta televisão, mas ela vê muito mais do que eu.

Um professor disse-nos, uma vez, que não queria ouvir nunca a palavra "merda". Mas uma vez, quando tentava mostrar-nos um vídeo e a televisão não funcionava, berrou: "Mas que merda é esta?"

O meu pai diz: "Vai tirar a louça da máquina", ou "Vai ajudar a tua mãe!" Ele próprio, no entanto, nunca ajuda.

Nas minhas observações do dia-a-dia constato, muitas vezes, que há pais que julgam não precisarem de educar os filhos, limitando-se a dar-lhes um tecto e a alimentá-los.
Sirvamos de exemplo! E lembremo-nos, todos os dias, de que educar crianças não é nenhuma brincadeira de crianças!

20 de novembro de 2011

Alternativa

Todos nós conhecemos o desenrascanço português, que aproveita ao máximo as potencialidades de uma motoreta:




Mas há outros povos inventivos, com alternativas interessantes:


Visto aqui

Se a moda pega...

18 de novembro de 2011

17 de novembro de 2011

Político super-herói

O desafio do blogue da revista Os Meus Livros, escrever sobre um político português que tem uma identidade secreta e é um super-herói, inspirou-me um texto. Resolvi participar no passatempo e acabei por ganhar um livro! Obrigada OML!

Podem ler o texto no link indicado, mas também me apetece publicá-lo aqui:

“O meu nome é Sócrates, José Sócrates”.
Toda a gente sabe que fui primeiro-ministro. Mas o que ninguém sabe é que, ao mesmo tempo, fui também…
Que disse? Um filósofo? Não (risos). Fui também um agente secreto. É verdade! Ao serviço de Sua Majestade.
Como? Portugal não é uma monarquia? E quem disse que eu trabalhava para Portugal? No interesse de Portugal?
Para quem é que eu trabalhava? Que Majestade servia? Não sei. Nem me interessa. Um agente secreto que se preze, com ordem para matar, trabalha sempre ao serviço de Sua Majestade. Ponto final.
Quem é que eu matava? Quem calhava. O que interessava era fazer boa figura e dar sempre a impressão de que cumpria as minhas tarefas com uma perna às costas. Sempre bem vestido, sempre aprumado…
Se era difícil? Não. Quando se tornava difícil, eu punha um daqueles sorrisos que não comprometem ninguém, mas que caem sempre no goto de quem nos olha, e repetia: “O meu nome é Sócrates, José Sócrates” (risos).
Nem imaginam o que me divertia! Que saudades eu tenho desse tempo! Dinheiro, aventura, emoção, alta sociedade, cocktails, mulheres…
Se eu era actor num filme? Não, era a vida real… Penso eu… Olhem, se querem mesmo saber, já nem sei bem. E, de repente, tudo acabou! É verdade.
Porquê? Também não sei bem. Mas, por algum motivo, deixei de ter piada. E fiquei muito triste.
Agora? Bem… Essa do filósofo não é má ideia. Alguém me disse que Sócrates era nome de filósofo… Acho que vou para França, disseram-me que dá muito prestígio. Depois, regresso com nova imagem, peço um vodka martini batido, não mexido, digo “O meu nome é Sócrates, José Sócrates”, e caiem-me novamente todos aos pés!
Não acreditam? Esperem, para ver!

16 de novembro de 2011

Tratado de Sahagún

Óleo de Carlos Alberto Santos
A segunda metade da vida de D. Afonso Henriques é muito menos conhecida do que a primeira. Toda a gente já ouviu falar da Batalha de São Mamede, da Batalha de Ourique, do Tratado de Zamora e das conquistas de Santarém e de Lisboa. Tem-se, no entanto, muitas vezes, a impressão de que a vida do nosso primeiro rei acaba aqui (excepção feita à conquista de Alcácer do Sal).

Na verdade, depois da conquista de Lisboa, em 1147, a vida de D. Afonso Henriques conta algumas infelicidades, como o desastre de Badajoz, que podia ter acabado com a independência de Portugal. Há, no entanto, um outro acontecimento anterior, bem menos conhecido, que fez perigar o reino: o Tratado de Sahagún, assinado, a 23 de Maio de 1158, pelos reis de Leão e Castela.

O primo de D. Afonso Henriques e seu grande rival, o imperador D. Afonso VII, faleceu em Agosto de 1157 (o nosso primeiro rei viveria ainda cerca de trinta anos). A sua herança foi dividida pelos dois filhos: o mais velho tornou-se no rei D. Sancho III de Castela e o outro em D. Fernando II de Leão. D. Afonso Henriques ter-se-á perguntado como lidar com a nova situação. O primo tinha acabado por se conformar com a independência de Portugal. Mas iriam os seus filhos seguir-lhe o exemplo?


D. Fernando II de Leão

Não! Convenhamos que seria de esperar. Dois jovens, que se vêm senhores de quase toda a Península Ibérica, haveriam de mandar a política do papá às urtigas e perguntar-se se não lhes seria possível apoderar-se de Portugal. Aqui, a cena em que D. Afonso Henriques comenta o conteúdo do Tratado de Sahagún:


- É verdade. A birra entre os maninhos foi sol de pouca dura. Prometem-se ajuda e combinaram que os respectivos reinos fossem transmitidos aos herdeiros do irmão, caso algum deles morra sem filhos. Até aqui, tudo bem. O pior, meus senhores, é que se permitiram deliberar sobre Portugal, sem nos terem tido nem achado! Em primeiro lugar, afirmam que eu, Afonso Henriques, à frente deste reino há quase trinta anos, eu, que tomei Santarém e Lisboa aos infiéis, não tenho o direito de continuar a conquistar territórios muçulmanos!

- Mas que despautério - lançou Gonçalo Mendes.

- Como se eu não existisse - prosseguiu Afonso, - trataram de dividir os territórios da mourama entre eles, definindo as áreas que cabe a cada um conquistar, incluindo as cidades do Gharb: Alcácer do Sal, Évora, Beja e Silves!

            - Mas quem eles pensam que são? - atirou Fernando furioso.

            - O pior ainda aí vem - disse o rei. - Decidiram, se puderem, repartir o próprio reino de Portugal entre si!

            Os três olhavam o soberano perplexos. Gonçalo Mendes acabou por falar:

            - Teremos que contar com uma invasão do reino.

            Todos reflectiam nesta preocupante conjectura, quando o alferes-mor opinou:
            - Mal poderemos resistir a um ataque conjunto das forças leonesas e castelhanas.

A situação era gravíssima:

            Em Coimbra, vivia-se em permanente estado de alerta, naquele Verão de 1158. Afonso reunia-se frequentemente com os seus chefes militares, a fim de discutir as informações que as patrulhas enviavam. Também D. Gualdim Pais veio à corte, mantendo-se em contacto com os Templários de Longroiva, Penarroias e Mogadouro, que, além das regiões de fronteira, vigiavam os movimentos dos senhores de Bragança. Afinal, Mendo de Bragança era o alferes-mor d’el-rei D. Fernando II de Leão.

            O mês de Agosto chegou, contudo, ao fim sem vestígios de perigo, apesar de os Templários se darem realmente conta de movimentos da parte dos leoneses nas imediações da tenência de Bragança. Tratava-se, porém, de assuntos internos: o monarca leonês andava ocupadíssimo com revoltas urbanas no concelho de Zamora. E não havia o mínimo sinal do irmão, D. Sancho III de Castela.

            Mas estas notícias, em vez de acalmarem Afonso, punham-no ansioso. Estava convencido de que os irmãos acabariam por atacar de surpresa, quando já ninguém contasse com a sua ofensiva. Além disso, se Fernando de Leão andava com os seus soldados pelo concelho de Zamora, bem poderia aproveitar a oportunidade para penetrar em solo português, ainda para mais, com Mendo de Bragança a seu lado. Afonso começou a achar que era necessário intimidar o jovem soberano com uma ofensiva militar, enquanto o irmão não desse sinal de vida. Considerava enviar hostes portuguesas que apoiassem as revoltas de Zamora. Com sorte, ainda se apoderava ele daquela cidade!


O que, até àquela altura, ninguém sabia, era que D. Sancho III de Castela, de apenas 25 anos, adoeceu gravemente, naquele Verão, vindo a falecer em Agosto. Assim se acabou por dissolver, de maneira inesperada, este perigo sério. D. Sancho III deixou um herdeiro de 3 anos, o que originou o início de tempos conturbados, em Castela. D. Fernando II de Leão, sem o apoio do irmão, acabaria por se aproximar do monarca português.

Embora ameaçador no seu conteúdo, o Tratado de Sahagún tornou-se, assim, obsoleto, em pouco tempo. E digam lá que Portugal não é, de vez em quando, bafejado pela sorte!



14 de novembro de 2011

D. Sancho I, o Povoador


Embora fosse o único filho legítimo de D. Afonso Henriques a sobreviver à infância, D. Sancho I não seria muito parecido com seu pai. Durante o seu reinado não mostrou ter as mesmas qualidades.

Em 1189, chegou a conquistar Silves, com a ajuda de cruzados, pelo que se intitulou «Rei de Portugal, de Silves e do Algarve». Mas, logo no ano seguinte, os mouros tornaram a chegar à linha do Tejo, uma verdadeira catástrofe, pela quantidade de praças perdidas. Além disso, envolveu-se em vários conflitos com a Igreja, recusou-se mesmo a pagar o tributo, negociado pelo seu pai com Roma e que garantia a independência de Portugal em relação aos outros reinos hispânicos. Só em 1198, treze anos após a morte de D. Afonso Henriques, a questão foi resolvida.

Mas D. Sancho I era um homem muito letrado e inteligente. Mandou povoar locais abandonados e concedeu quase 50 cartas de foral, sobretudo na Estremadura, Beira e Trás-os-Montes. Ou seja, se não aumentou o território (perdeu mesmo algum) consolidou e organizou o já existente, tornando-o mais forte e imune a influências exteriores. Além disso, tinha qualidades poéticas. Na sua História de Portugal, o Professor Veríssimo Serrão compara-o mesmo a D. Dinis e reporta-se a uma conhecida balada, que D. Sancho terá composto para a sua barregã preferida, D. Maria Pais Ribeira, mais conhecida pela Ribeirinha, que por ele espera, no sopé da Serra da Estrela. D. Sancho virá da Guarda, cidade por ele fundada:


Ay eu coitada - Como vivo
em gran cuidado por meu amigo
que ei alongado. Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!

Ay eu coitada - Como vivo
en gran desejo por meu amigo
que tarda e não vejo. Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!




Entre os filhos que teve da sua rainha, D. Dulce de Aragão, e das barregãs, D. Sancho contou cerca de vinte rebentos, enquanto o pai se limitou a onze, embora tivesse vivido muito mais tempo. O Povoador faleceu a 16 de Março de 1211, com 57 anos.

11 de novembro de 2011

D. Sancho I (que, na verdade, se chamava Martinho) nasceu há 857 anos

À altura do seu nascimento, D. Sancho I não estava destinado a ser o segundo rei de Portugal. A prová-lo, está o facto de ter sido baptizado com o nome de Martinho, por ter nascido a 11 de Novembro. Martinho era, no entanto, um nome sem tradição entre os reis hispânicos. E, passado algum tempo (de seis meses a um ano), mudaram-lhe o nome para Sancho.

Porquê uma história tão atribulada, tendo como protagonista o sucessor de D. Afonso Henriques?

Afonso Henriques - óleo de Carlos Alberto Santos

Na verdade, no dia de São Martinho de 1154, nasceu, não o primogénito, mas o segundo filho (legítimo) do primeiro monarca português. Destinado a ser o segundo rei de Portugal estava o seu irmão Henrique, que, na altura, tinha já sete anos. Era este o primogénito, a quem D. Afonso Henriques, note-se, deu o nome de seu pai. E o facto de ter dado o nome de Martinho ao menino nascido naquele dia indica que talvez o destinasse à carreira eclesiástica. Se Martinho não era nome para rei, seria adequado para um clérigo.

- Graças a Deus - repetiu o prelado. - E nascer assim, no dia de São Martinho... Tenho para mim que é um sinal dos Céus. 
- Pela minha saúde, senhor prior - replicou a aia, benzendo-se, - tirais-me as palavras da boca. Jesus! Até me parece que Deus nos quer dizer algo! 
- Será que Deus destinou este príncipe para uma carreira eclesiástica? 
Afonso opinou: 
- Ao futuro rei convinha ter um irmão clérigo, que quiçá venha a ser arcebispo… 
- E o nome, D. Afonso?
 O soberano não respondeu logo e Elvira atreveu-se: 
- Nascido neste dia, bem se podia chamar Martinho. 
D. Teotónio olhou-a intrigado, quiçá estranhando aquela impulsividade numa dama normalmente tão introvertida. Mas os olhos de Josefa iluminaram-se e a mulher dirigiu-se ao prelado, as mãos juntas como numa oração: 
- Quem sabe, seja isso que Deus nos tenta dizer, senhor prior: o principezinho deverá seguir uma vida na Igreja e levar o nome do santo! 
- É uma inspiração curiosa - admitiu Teotónio. - Não olvidemos, porém, que Martinho é um nome sem tradição nas casas reais hispânicas. E, enfim... Nunca se sabe se ele, numa qualquer eventualidade, ainda tenha de subir ao trono... 
- Para a vida eclesiástica - interrompeu-o Afonso, enervado com o comentário, - o nome seria adequado. E, fazendo a vontade a Deus, melhor contribuiremos para a recuperação da rainha. 
Josefa tornou a benzer-se e o rei anunciou: 
- Pois que se chame Martinho!

No ano seguinte, porém, talvez no Verão, dá-se uma reviravolta nos acontecimentos: o infante D. Henrique morre, com apenas oito anos de idade. Apesar de a mortalidade infantil ser alta, naquela altura, sou de opinião de que Afonso Henriques terá sofrido um grande golpe.

- Tendes de ser forte, meu rei, muito forte! 
Afonso engoliu em seco. 
- Morreu alguém, não é verdade? Mas quem, D. Teotónio, quem? 
O prelado soluçou, por entre um rio de lágrimas: 
- Nada se conseguiu fazer pelo infante... Nada... Adoeceu tão de repente... 
- O infante?
 Crianças morriam facilmente e Afonso pensou no mais novo, nascido há apenas seis meses:
- Martinho… Valha-me Deus! Martinho morreu? 
O prior levou um lenço aos olhos. Soluçava tanto, que quase não conseguia falar: 
- O infante Martinho... Não. O irmão... O irmão é que morreu... Coitadinho... 
Afonso abriu muito os olhos. De repente, tudo lhe parecia irreal. Devia ser um pesadelo! A respirar pesadamente, olhou à sua volta, como que a procurar a saída do inferno.

 



Devemos considerar que, além de perder um filho, Afonso Henriques viu destruído o seu sonho de o seu sucessor ter o nome do pai. Além disso, ele próprio já não era novo. Ia a caminho dos cinquenta, a esperança de vida não era longa (ninguém podia adivinhar que ele passaria os setenta) e, de repente, o seu sucessor não passava de uma criança de colo.

E havia a questão do nome. Porquê Sancho? No romance, eu dou a minha versão:


Nesta fase de tristeza e desolação, em que Mafalda, no seu quarto escuro, se mantinha longe dele, perguntava-se inúmeras vezes:valera a pena desposá-la?
Não entendia porque Deus o martirizava tanto. Procurava frequentemente o prior, que não perdia uma ocasião de lhe recordar que o infante devia ter um nome mais apropriado. Mas Afonso, depois de se ver obrigado a desistir do sonho de que o seu sucessor levasse o nome de seu pai, não encontrava cabeça para o assunto.
Um dia, deu consigo a pensar no avô, a quem o herdeiro, já homem feito, morrera em combate. Como se teria sentido o imperador, que, na altura, era bem mais velho do que ele? Afonso VI falecera um ano depois do filho, na incerteza do que sucederia aos vários reinos que ele unira, à custa de tantas lutas e de tanto sangue.
Afonso sentiu que devia dar o nome do herdeiro do avô ao filho: Sancho! Era, acima de tudo, um nome cheio de tradição nas casas reais hispânicas. A partir daquele dia, deixou de existir o infante Martinho. O príncipe herdeiro de Portugal chamava-se Sancho!